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Refletindo ser mulher

Eu sempre quis jogar futebol. Sempre quis fazer um gol, de preferência no Maracanã. Era um sonho. Sentada no degrau do portão da nossa casa de subúrbio no Rio, acompanhava meu irmão batendo bola pra lá e pra cá com colegas da rua.  Pensava por que as meninas da vizinhança não estavam ali, por que eu não era convidada a estar no time. Não conseguia achar uma resposta. Sentia uma pontinha de inveja.

Perguntava para a minha mãe. Ah, futebol não é coisa pra garota”.

O que me deixava ainda mais confusa é que a essa altura da minha vida, eu já havia ido algumas vezes ao Maracanã. Fui pela primeira vez aos 4 ou 5 anos levada pelo meu pai e por um tio, flamenguista fanático. Se eles me levavam a um jogo de futebol, por que não podia bater uma bolinha? Difícil entender.

Queria ser astronauta. Sonhei muitas vezes que caminhava sobre a superfície da Lua e que flutuava no espaço sideral ou dentro de uma nave. Acordava com uma sensação de alegria. Ouvi de uma professora: “viagens espaciais são coisas pra homens fortes e preparados”. Mais uma vez, difícil de entender.

Refletindo sobre esse 8 de março, vejo as mudanças.  Você pode até dizer que nem todas foram ou são positivas. Mas, já temos Copa Mundial de Futebol Feminino, Marta foi eleita seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo, a maioria dos clubes tem times femininos. Sally Ride, a primeira americana a viajar ao espaço em 1983, integrou a missão STS-7 da Nasa. Apesar da participação anterior em voos espaciais de duas soviéticas, o dela ficou marcado na imaginação de muitas adolescentes.

Já houve e há mulheres na presidência do FMI e na de países mundo afora. Mulheres ocupam postos de primeira-ministra, de secretária de governo ou de gerentes de empresas globais. Não digo que ainda não exista muita dificuldade para que nós estejamos nos mesmos postos que sempre foram ocupados apenas por homens. Perduram resistência e medo por causa da perda de lugares que antes eram garantidos apenas por gênero. Os salários ainda não foram, na prática, igualados.

No entanto, tenho certeza que os caminhos se alargaram. Apesar da briga que persiste, já foram mais estreitos. Há homens que ainda viram a cara quando precisam abrir espaço para que uma mulher faça parte de uma reunião, por exemplo. Como sempre digo: problema deles.

Dica: se preparem para aumentar o ar-condicionado porque os calores da menopausa são um inferno literalmente. Melhor aceitar.

Há vozes femininas. Há ouvidos masculinos. No entanto, ainda há muita cegueira, principalmente, para aqueles que acreditam que construíram e que seguirão construindo o mundo sozinhos.

Podem reclamar, podem tentar impedir. Não, não é mais assim. Estamos todos juntos, mulheres, homens, trans e tudo quanto é tipo de ser humano.

 Minha neta terá uma estrada mais leve e livre. Com certeza.