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Como uma caixa de lápis de cor

Eu voei. Voei alto por cima da vida, dos rios, das florestas. Voei com a brisa. Não me dava conta do quanto subia. Somente as árvores que ficavam menores confirmavam que, sim, eu estava cada vez mais alto. Não havia nuvens. O dia claro e seco – era outono – ajudava na percepção da altura.

A luminosidade era um capítulo à parte. Suave, envolvia meu corpo com graça e força. Me sentia segura, como nos braços maternos, e, ao mesmo tempo, livre para fazer movimentos sem achar que a qualquer instante pudesse cair ou me machucar. Acredito que deva ser assim que as crianças se sentem quando são bem cuidadas pelas mães que, no fundo, querem apenas ampará-las até que encontrem o caminho de suas próprias vidas. Eu me sentia assim quando pequena.

Espero que tenha sido essa a minha postura em relação ao meu filho. Nós nascemos para o mundo, para encontrar uma estrada pessoal de conquistas e amadurecimento, para ser feliz. Pertencemos ao universo.

A cor do céu era outro detalhe que me encantava.

Quando estava no começo da escola – no que hoje, se chama fundamental – era louca por caixas de lápis de cor. Meus pais não tinham como me presentear com aqueles estojos com 72 lápis de tons diferentes. Lembro que pedi de presente um desses num Natal longínquo. Eu tinha apenas caixinhas com 6 cores e de lápis pequenos.

Tinha predileção especial pela gama dos azuis. Aquela que começa com o verde e vai ficando azul até encontrar o lilás bem claro. Nesse voo, me via dentro do tom de azul do lápis que fica no meio dessa gama: nem tão claro, nem azul marinho. Minha cor predileta.

Lembrei que ficava chateada quando errava o jeito correto para fazer as pontas dos lápis. Tomava muito cuidado na hora de usar o apontador: não queria que, principalmente, os azuis acabassem rápido demais. Eles eram uma luz na minha reclusa rotina escolar.

Agora, aterrissei do outro lado da caixa, no meio das nuances dos amarelos, laranjas e marrons. A estrada da minha existência adulta se impôs. Afinal, precisava chegar ao fim desse texto.

A sensação tranquila daquele azul do voo foi incrível. Me fez lembrar dos tempos de colégio quando eu imaginava que minha vida seria como uma caixa de lápis de cor. Quem sabe, com 500 tonalidades, com 500 oportunidades diferentes.

Me espantei quando vi em site na internet que hoje essa caixa enorme existe de verdade. Naquela época, existia somente na minha imaginação de menina.