“Se há solução, não há problema”, é o que se diz por aí. Quem escreveu essa frase? Nas pesquisas que fiz, há referências ao filósofo Epiteto – grego que viveu em Roma durante o primeiro século da nossa era – a Aristóteles e, mais recentemente, ao Dalai Lama. Não consegui chegar a uma definição da autoria. No entanto, já que levantei esse tema, sigo divagando: o que é de verdade um problema?
Na maioria das vezes, costumamos usar a palavra problema para assinalar tudo aquilo que de alguma maneira nos incomoda. Ou que nos deixa paralisados porque não sabemos como agir. Parece que a palavra problema vem se transformado no problema da contemporaneidade.
Pode ser que essa não seja uma questão para você, porém percebo que é para a maioria das pessoas com as quais converso ou das quais leio os posts nas redes sociais. É assunto recorrente.
Não posso disser que não existam problemas que devam ser de fato designados como tanto. Sim, eles existem. São muitos e no mundo todo. Guerras, mortes, doenças, acidentes, tragédias, tempestades que diariamente insistem em nos espantar. Nos fazem sofrer e chorar. Mas…….
“Não consegui ir à academia hoje porque não despertei a tempo. Problema do celular que estava sem bateria”.
“Não pude fazer a dieta da nutricionista porque não havia legumes em casa. Problema da chuva dessa manhã”.
“Não fui ver meus pais nesse domingo. Problema foi do Uber que estava com a tarifa mais alta”.
De problema em problema, vamos levando a nossa rotina. Quando nos damos conta, os anos passaram. E não conseguimos manter a atividade física em dia, não fizemos a dieta recomendada, deixamos de ver nossos pais por semanas, por meses. Eles se vão, nossa saúde fica prejudicada e a culpa aparece.
Por que o ser humano insiste em colar o selo de problema naquilo que é, em geral, apenas surge para ser ultrapassado ? Por que insistimos em jogar a responsabilidade em cima de oito letras?
Somos preguiçosos. Somos lenientes.
A atualidade é tão repleta de facilidades – do celular que reúne tudo em um só aparelho passando pelo delivery de comida, por exemplo – que quando surge uma falta ou uma novidade tendemos a reconhecer essas situações como um problema. Não conseguimos enxergar que é apenas mais uma questão eventual das muitas outras da nossa existência. Existem para que possamos nos desenvolver e crescer.
Repare em um bebê. Engatinha, cai, levanta, cai de novo, se machuca, chora, tropeça até conseguir se equilibrar nas duas pernas. Não há outro jeito que não seja esse. Com o tempo vai aprender a se desviar dos obstáculos da casa e da vida. Acaba encontrando a sua forma pessoal de seguir em frente. Assim, somos todos nós.
Ao dormir não vamos deixar de carregar a bateria do celular para não perder a aula da academia. Vamos comprar os legumes, ainda que congelados, para manter a dieta. Se não tem Uber, vamos de ônibus, de táxi ou adiamos para outro domingo a visita aos pais.
O tempo não vai esperar que fiquemos parados diante daquilo que chamamos de problema. Ele tem seu próprio ritmo. Não espera por ninguém. “Hoje, o tempo voa, amor. Escorre pelas mãos”. (Lulu Santos em Tempos Modernos)
Aqui fica um convite para deixar a palavra problema no lugar devido. Afinal, “se há solução, não há problema”. Esse autor indefinido sabia das coisas.