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Meu quintal

Plantas e flores precisam de cuidado e de atenção. Ok, sabemos disso. E, nossas vidas também. Será que temos essa consciência?

Um episódio recente da nossa pequena sacada – aliás, personagem de uma crônica – me fez pensar mais sobre esse tema. Como com as plantas,  precisamos estar de olho atento para nos desenvolver. Necessitamos regar, nutrir e remexer nossa terra interior.

De uma hora para outra, um bouganvile da tal sacada se transformou em um monte de gravetos. Perdeu as flores e quase todas as folhas. Não sabemos se foi a chegada do outono, uma praga ou aquela onda de frio que fez a temperatura baixar aos inacreditáveis 13 graus no bairro onde moro. Enfim, precisava de intervenção rápida para não sucumbir. A solução foi levá-lo para uma área do prédio. Aparamos, regamos com uma solução vitaminada específica. Está em recuperação.

Enquanto essa operação seguia, me lembrei de coisas da minha infância. Vivi boa parte dela em uma casa de subúrbio no Rio. Lá tinha quintal com mangueira, coqueiro, laranjeira, pé de sapoti em meio a galinhas, patos e coelho. Aliás, esse último bichinho faz parte de uma experiência traumática que mudou minha relação com a comida e virou conto.

Tive também gatos, tartarugas. Viviam soltos de um lado para o outro e conviviam bem na medida do possível. Lembrei das lágrimas quando um atrevido porquinho da índia, o castanho “Dundum”, resolveu comer a comida da cachorra. Morreu abocanhado por ela.

Meu pai não quis comprar outro. Mas, desistiu da intenção inicial diante da minha tristeza. Um dia, apareceu com um preto e branco. Esse sumiu. Não sei o que aconteceu. Quem sabe, também foi morto do mesmo jeito. Meus pais devem ter escondido mais esse capítulo triste do mundo do meu quintal.

Um das minhas brincadeiras favoritas era remexer a terra nos canteiros para encontrar minhocas e formigas e mudar as plantas de lugar. Do quintal para o jardim e vice-versa. Às vezes, dava certo – e, elas sobreviviam – outras não.

Minha observação infantil foi me mostrando que quanto mais eu cuidava – mesmo de uma forma intuitiva, é verdade – mais as plantas cresciam. A saúde de cada uma delas estava ligada à atenção que recebiam. Não era a quantidade de minutos que eu dedicava. Acho que era a intensidade e o fato de estar por inteira nessa função de cuidadora. As plantas retribuíam em beleza.

Hoje, na maturidade, vou cada vez mais me dando conta o quanto é essencial esse zelo contínuo com a nossa vida.  Precisamos mexer, adubar, regar, mudar. Precisamos descobrir se somos seres solares ou lunares. Se o nosso perfume individual exala nas noites da primavera ou do outono. Isso é cuidar da gente e, também dos outros. Com certeza, o retorno será tão belo quanto o das plantinhas do meu quintal.