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Longe da depressão

Experimentei a companhia desagradável da depressão em três momentos da minha vida. A primeira após o parto,  a tal da depressão pós-parto. Nem sabia que esse tipo de questão existia. Não se falava sobre o tema.

Só vim a descobrir que era mesmo depressão quando sucumbi de novo muitos anos depois. Nessa segunda vez, ainda conheci também os transtornos da menopausa precoce por causa de uma cirurgia. Tempos desafiadores.

Foram meses de escuridão. Não tinha vontade nem mesmo para levantar da cama quem diria para amamentar, cuidar do bebê, procurar trabalho, ver a luz do sol. Com a terapia tradicional, aos poucos, consegui me desvencilhar dessa névoa escura.

A terceira foi mais aguda. Precisei de medicação em conjunto com a terapia. Foi dessa vez que consegui me convencer e entender que tenho esse traço depressivo. Preciso tomar conta da minha alma, da minha mente e do meu corpo para não embarcar nesse navio fantasma.

Em todas as vezes que a depressão aportou, as atividades físicas foram grandes aliadas no tratamento. É verdade que não é nada fácil ter força para sequer calçar os tênis e sair para caminhar. Não é não. Parecia uma tarefa impossível ou coisa de super atleta. Essa era a sensação que eu tinha. Não foi na primeira tentativa que consegui. Tive ajuda e incentivo para continuar tentando.

Fui aprendendo que era um dia após o outro. Sem depressa, mas com velocidade constante. Meu lado pragmático se debatia com esse ritmo mais lento da adaptação do corpo aos efeitos da medicação e ao entendimento do que se passava na minha cabeça. Precisei aprender mais e mais sobre mim mesma.

Um dia acordei com a sensação de que já estava na hora de sair para treinar e que o sol me esperava. Era como se nada tivesse acontecido. Sabia que não era um milagre nem que eu estava curada para sempre. Tinha a convicção que havia ultrapassado mais uma vez a barreira que a depressão havia colocado entre a vida e eu.

Isso foi há pouco mais de dez anos.

Tenho lido e ouvido vários relatos sobre a depressão nas redes sociais. É uma pauta super importante de ser levantada não só nesse mês – 10 de setembro é considerado o dia de Combate à Prevenção do Suicídio,  ponto de partida para a criação do Setembro Amarelo – como em todos os dias do ano.

Dados demonstram que algo em torno de 96% dos casos de suicídio têm relação com os transtornos mentais, entre eles, a depressão. Portanto, é importante dar visibilidade e procurar compreender melhor sobre a doença. Nem sempre uma cara de felicidade é sinal de felicidade mesmo. Pode esconder um estado depressivo que precisa de escuta e de ajuda.

Sigo atenta aos sinais. Não quero essa companhia. Não quero que ninguém experimente o gosto amargo da depressão.