Não adianta reclamar, chorar ou fugir. Um dia, o envelhecimento mostra a sua cara. Chega de verdade. Para as mulheres quando a menopausa se apresenta, parece que essa data chega mais cedo ainda.

Mas, a outra alternativa a não envelhecer é a morte. Ou seja, fora de cogitação.

Desde que comecei a abastecer esse blog, venho, vez por outra, falando sobre o tema. Contei por aqui como descobri que eu era grupo de risco (acima de 60 anos) quando começou a pandemia e como meus hormônios me abandonaram depois de uma cirurgia.

Não pude fazer reposição hormonal. Esse novo período da minha vida foi muito desagradável, triste mesmo. A depressão veio junto.  Contei também como aos poucos fui aprendendo a lidar com essa nova condição e como a atividade física foi, e é, minha grande aliada.

Envelhecimento da população brasileira foi o objeto da minha tese de pós-graduação em Sociologia Política e Cultura. Venho refletindo há algum tempo sobre ele. Hoje, é mais do que positivo que possamos conversar abertamente sobre a menopausa e o envelhecimento da mulher com leveza e com respeito. Vejo muitos textos, sites e perfis dedicados ao tema. Saímos da escuridão.

Fico imaginando quando minha mãe passou por essa fase da vida: tudo era considerado tabu. Lembro do suor sem motivo mesmo nos dias frios, da irritabilidade e do choro a troco de nada,  da reclamação da secura da pele e dos cabelos. Me recordo também da chateação com as roupas que não cabiam mais nela. Principalmente, lembro do esforço que eu fazia para de alguma forma aliviar a tristeza que se abatia sobre ela. Não entendia muito, mas queria ajudar. 

Enfim, o envelhecimento da mulher com todas as suas peculiaridades chegou ao horário nobre da tevê aberta brasileira. Que bom! O personagem da atriz Andréa Beltrão representa muitas mulheres na novela “Um lugar ao sol”.  Uma mulher com mais de 50 anos em plena forma, mas já sem ofertas de trabalho, com um casamento derrubado, procurando entender sua nova condição física e os efeitos da menopausa. E, ainda por cima, vivendo um romance com um rapaz com idade para ser seu filho. Ponto para a sensibilidade da autora Lícia Manzo.

Acredito que boa parte do contingente das mulheres brasileiras nessa faixa etária ainda não tenha condição de falar sobre como o envelhecimento impacta nas suas vidas. Apesar de sermos, segundo os últimos dados disponíveis do IBGE de 2019, 51,8% do total da população brasileira. Há muito a ser debatido ainda. Durante muitos anos, esse assunto foi proibido. Poderia ser sinônimo de derrota, doença, isolamento dos círculos sociais e do mercado de trabalho. Era se tornar quase nula.

No entanto, o mais importante é ter espaço disponível para essa conversa. Cada mulher precisa enxergar que o envelhecimento faz parte da vida de qualquer pessoa, seja mulher ou homem.

Sei que ainda temos  um longo caminho a percorrer. Pode ser que nem todos os problemas possam ser amenizados, mas, acredito que estamos dando um grande passo.

Envelhecer é uma questão de toda a humanidade. Faz parte de estar vivo!