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Meus hormônios me abandonaram

Os hormônios me abandonaram”. Não, a frase não é minha. Um dia, li numa matéria do jornal O Globo com a cantora Zélia Duncan. Logo, me veio à cabeça, e pior, a sensação desagradável desse abandono quando os hormônios femininos se vão. Bem-vinda à menopausa ou à pós-menopausa.

Sei que maturidade é tudo. Amo minha vida de hoje. Sei que os 50+ têm me trazido realização profissional, alegria. Sei que não ficar menstruada todo mês pode ser um alívio para muitas. Mas, esses calores são uma “M” com letra maiúscula, principalmente, num verão carioca. Desnecessário.

Sei, também, que nem todas as mulheres sofrem com a mesma intensidade com a chegada da menopausa. Sei que muitas conseguem atenuar os efeitos com as novas tecnologias dos medicamentos. Mas, eu não tive essa chance. Entrei na menopausa cedo.

Tinha acabado de fazer 43 anos quando, em uma consulta de rotina, o médico me disse que eu tinha um tumor no ovário esquerdo. Falou sem fazer muito rodeio: “Conversa com a minha secretária”. Tenho agenda, acho, que para o próximo sábado. Vamos fazer logo a cirurgia”.

“Ops, vai tirar meu ovário; não sabe se o tumor é maligno ou não; não sabe se meu plano de saúde cobre a cirurgia; não sabe o que tenho pra fazer da minha vida nos próximos dias. Huuumm, tá tudo errado”, pensei. Claro, não falei com a secretária. Nunca mais voltei a esse consultório. Chorei baldes no caminho até o andar térreo do prédio. Peguei o primeiro táxi na direção de casa. O motorista só mexeu com a cabeça como sinal de que entendeu para onde eu ia.

Continuei chorando quando cheguei em casa. Meu marido chorou. Meu filho chorou. Ficamos sem chão. Lembramos de ligar para um médico, clínico geral, conhecido da família. Naquele momento, a gente precisava se acalmar. E, assim foi. Fiz um monte de exames mais de uma vez. Fiz marcadores tumorais. Fui a outros médicos.

Nessa época, trabalhava em São Paulo, morava no Rio. Ficava pra lá e pra cá. Era cansativo, mas eu curtia muito. Conheci muita gente maravilhosa que me apoiou nessa fase difícil.

Um mês depois daquela fatídica consulta, fui operada por uma equipe montada pelo médico amigo. Foi a forma encontrada para que a gente pudesse pagar. O plano só cobriu a casa de saúde e, olhe lá!  Da manhã para a tarde, entrei na menopausa. O cirurgião-chefe quando foi me ver no quarto disse: Olha, o tumor fez vestibular, mas não passou. Tirei tudo. Você vai ficar muito bem” – naquela época, ainda não existia ENEM.

A princípio, não entendi muito bem o que ele estava querendo dizer. Estava meio zonza, acordando da anestesia geral. Foram 5 horas de cirurgia. Ouvia vozes ao longe e, às vezes, mais perto. As pernas não se mexiam.

A explicação veio depois. Com receio do surgimento de outros tumores, a equipe médica resolveu retirar não só ovário com o tumor, mas, também, o outro ovário, as trompas e o útero. Ou seja, a menopausa entrou na minha vida sem permitir que eu me preparasse, sem pedir licença, tipo “ tô chegando e me aguenta aí”.

O tumor felizmente era borderline. O que me explicaram levando em conta a tecnologia disponível: “A gente não sabe como ele se comportaria se não houvesse sido retirado”. Quem sou eu para duvidar. Não precisei fazer terapia a mais e tive acompanhamento médico por muitos anos.

Os calores passaram a fazer parte da minha vida menos de 2 meses depois da cirurgia. Eram tão violentos que provocavam uma queda de pressão também violenta. Desmaiei várias vezes. Passei vergonha na rua. Desmaiei em uma loja, no avião e várias vezes em casa. Um dia bati com a cabeça na beirada da pia da cozinha. Fiquei com um calombo enorme na testa.

Como nenhum médico tinha certeza se as terapias hormonais disponíveis à época poderiam ou não causar câncer em outra região do corpo, deixei pra lá. Não tomei nada. Fiquei sofrendo não só com os calores intensos, mas, também com toda a gama de sintomas de quem está na menopausa.

Comecei a praticar mais exercícios; descobri o ciclismo indoor, a meditação, o cheiro calmante do óleo de lavanda, a sensação da água gelada no rosto. Desde então, vou tentando driblar essa falta de hormônios. É um desafio diário, principalmente, em meio a reuniões, passeios, treinos, viagens.

Preciso respirar fundo, me acalmar. Mas, já que não tem jeito, conto até 20 e espero passar. Estou viva!