Sei, eu sei, que como diz Adriana Calcanhoto, “cariocas não gostam de dias nublados”. Chega até a ser uma repetição idiota falar sobre esse tema e citar a cantora. Mas, sei também que não consigo deixar de refletir sobre os dias nublados e não lembrar da canção. Esses dias fazem parte da minha existência; já me derrubaram, já me ajudaram.
Sou carioca, mas mesmo os dias cinzentos no Rio me trazem lições. São dias que me trazem tranquilidade e tempo para olhar para o lado. Olhar pra aquilo que fica inebriado pela luz do sol carioca. De tão brilhante, ela esconde o que eu deveria enxergar. Isso acontece comigo. Não sei se é assim com você.
Saí do sol e daquele céu azul mais azul que o próprio azul de Lisboa. Mudei de latitude e cheguei à Alemanha por alguns poucos dias. A saudade da família dói: por esse motivo estou aqui.
Aqui, no outono alemão, a época significa mais frio e dias bem nublados, pelo menos, na região onde estou no estado de Baden-Würtemberg. Não necessariamente com chuva, mas nublados. Detalhe: o tempo muda muito rápido. De uma hora para outra vamos de 15 graus com sol ameno a 7 graus com céu cinzento e vento
Essa madrugada, acordei. O barulho do vento era de enlouquecer. Parecia que iria derrubar as janelas. As minhas fotos nas caminhadas por Mannheim mostram a situação do céu.
Daí, que me voltei para a mesma reflexão que me invade quando, no Rio, o cinza do dia paira sobre mim. Tem me feito bem. Da minha janela, vejo o esforço que o sol tímido outonal faz pra vencer a camada de nuvens cinzas. Nem falo da temperatura, que por aqui, em uma semana não passou de 16 graus. À noite, chega a 5 ou 6 graus.
O interessante é ver essa força da natureza a cada dia querendo se mostrar, querendo nos aquecer. Tem dia que a performance é melhor, tem outro que não.
Já escrevi aqui sobre as janelas, janelas reais, janelas da alma. Se ainda não leu, o link é esse aí ao lado. Nesses dias nublados tenho me aproximado mais da janela física que deixa esse sol entrar. Enquanto, ele faz o seu balé, fico aqui, pensando. Refletindo sobre o quão abençoada sou já que mesmo ainda nesse momento delicado do mundo pude ver minha família.
Mesmo que os dias continuem nublados, eles valem pela chance de matar a saudade e apreciar o sol na sua contínua tarefa de nos esquentar. Valeu!
