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Almoço de domingo no Alentejo

Pra começar, vou logo dizendo: fui uma criança chata pra comer e me tornei um adulto com restrições alimentares. Não como carne, por exemplo, desde criança. É verdade que há um episódio de infância que irrompeu com essa aversão e, por coincidência, num almoço de domingo. Um dia, conto.

Procurei desde há muito tempo, aprender a me alimentar de forma saudável. Sempre a saúde em primeiro lugar. Sem ela, tô ferrada.

Agora, com o passar dos anos e com a chegada da maturidade, engordei. Nada que não fosse esperado, mas, é sempre chato não caber mais em uma roupa. Mulheres, levantem a mão quem já não passou por isso. Muito chato, porém faz parte. Tenho como aliado o exercício físico. Se bem que com a pandemia, ainda estou na dívida com meu corpo: ele reclama e muito.

Mas, como sempre digo, algo acontece que me leva a lugares que fazem com as máximas da minha vida sejam impactadas, principalmente, nas viagens. Foi numa dessas que conheci num domingo a Tasca do Gino na pequena cidade histórica de Alcácer do Sal à beira do rio Sado em Portugal. A cidade é uma das mais antigas do país fundada pelos fenícios antes de 1000 a.C . Era fornecedora de sal, peixe salgado e cavalos para os barcos.

Fica na região do Alentejo a mais ou menos 100 km de distância de Lisboa e pertence ao distrito de Setúbal. Faz parte dessa cidade, a localidade de Comporta, uma pequena aldeia que tem a tal praia considerada a mais bela da Europa. Ganhou fama depois que a cantora Madonna, na sua vinda para Portugal, cavalgava nas areias claras da extensa praia de areia clara. De fato, é linda.

O almoço de domingo foi na base da verdadeira comida do Alentejo. Apesar do nome italiano da tasca, o dono, na verdade, é português e se chama Fernando. São pratos com nomes e preparos diferentes que me fizeram pensar o quanto perdemos por conta das comidas processadas e da rotina acelerada para comer. Lá ficamos por 3 horas. Couvert (com direito a ameijoas à bulhão pato na foto acima), entrada, prato principal e sobremesa: há anos não sabia o que era isso.

Veja alguns nomes dos pratos que vieram à mesa: burras com migas de coentros (bochechas de porco com um bolinho feito à base de migalhas bem temperadas de pão), sopa de tomate alentejana com ovo escalfado (ovo pochê), ensopado de borrego (carneiro), farófias (pudim de clara com calda de ovos), sericaia com ameixa d’Elvas (doce conventual tipicamente alentejano feito com ovos e canela em abundância, uma receita dessa outra cidade da região que batiza a ameixa.)

Além do prazer da comida alentejana, foram os minutos de muito papo, troca de ideias, de conhecimento, de novidades e de satisfação que me deixaram pra lá de feliz. A companhia dos meus amigos e da minha família foi o detalhe que fez mais ainda a diferença desse almoço de domingo.

Agora, me pergunte o que eu comi? Garoupa grelhada e legumes salteados. Pode dizer que não fui nada diferente, que não tirei partido dos sabores típicos da comida do Alentejo. Mas, meu prato estava muito saboroso: peixe fresco e legumes idem e, melhor de tudo, mergulhados na atmosfera de felicidade. Domingo pra ficar na história da minha vida e sem trauma.