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Angela Merkel e uma cerveja americana

Venho acompanhando há algum tempo as notícias que dizem respeito à saída da primeira-ministra Angela Merkel do governo alemão. No cargo desde 2005, aos 70 anos, ela deixa neste semestre o posto depois de 16 anos. Foram 4 mandatos seguidos. As eleições alemãs serão daqui a cinco semanas.

A primeira-ministra enfrentou a crise econômica do mundo em 2008, a dos refugiados em 2015, a do Brexit – quando o Reino Unido deixou a União Europeia – a da instabilidade internacional durante o governo Trump, ainda enfrenta a pandemia da Covid-19  e, agora, o rebuliço por causa do Afeganistão. Tornou-se uma referência mundial.

Mas, o que me faz refletir mais sobre sua trajetória foi a final da Copa do Mundo de Futebol de 2014 no Maracanã. Sabemos: a Alemanha foi protagonista do fatídico 7 x 1 e campeã.

Na época, eu era responsável pela área de Protocolo da sede Rio de Janeiro. Estava no front do evento. Vivi alguns meses dentro do gigante de concreto, o Maracanã, como já contei nesse link.  

A presença da primeira-ministra foi confirmada assim que o time alemão se posicionou para a partida final do evento no domingo 13 de junho.

Ela chegou no horário marcado acompanhada de uma comitiva pequena. O figurino era o de sempre: blazer básico na cor vermelha e calça branca. Eu tinha tanta coisa para dar conta naquele dia, que pouco a vi, assim como, não vi nada do jogo.

No momento do gol do alemão Mario Götze, já nos acréscimos, eu estava no andar térreo do Maracanã. Estava tentando resolver um problema com as luzes de LED de um túnel branco que foi montado na entrada por onde os convidados Vips entravam. Elas deveriam estar programadas para azul e branco, caso a Argentina ganhasse, ou vermelho e amarelo, caso a vitória fosse alemã.

De repente, sai o gol. As buzinas dos carros que estavam estacionados na área destinada às autoridades dispararam. As sirenes dos carros oficiais berravam. A galera vibrou muito quando a seleção do Messi foi batida.

Jogo acabado, vitória alemã, luzes do túnel em vermelho e amarelo, subi para o andar onde seria entregue a taça. Depois da cerimônia final, os convidados saíram muito rápido. Daí, vejo a primeira-ministra sentada em uma mesa num canto do salão com mais três assistentes. Não havia mais quase ninguém no andar: só garçons, alguns seguranças e a equipe de limpeza meio escondida aguardando o sinal pra começar o serviço.

Me aproximei e me identifiquei. Perguntei em inglês – meu alemão havia ficado nas aulas do Colégio Pedro II – se ela queria alguma coisa. Muito educadamente, agradeceu, me respondeu que não, que não se preocupasse com ela. Estava somente aguardando um sinal para ir ao vestiário parabenizar os jogadores.

Eu disse que deixaria um garçom à disposição caso ela desejasse algo, bebida ou comida. Novamente, me disse para não me preocupar, já que afinal eu deveria ter muita coisa para fazer. Pensei: “Que gentileza. Raro.”

Mesmo com o garçom de pé, pouco tempo depois, ela se levantou. Sem frescura, sem segurança atrás dela, foi até o balcão do bar e pediu uma cerveja. Os três assistentes, todos homens, lá ficaram na mesa conversando em meio a uma felicidade de dar inveja. Ah, como eu queria que alegria fosse em verde e amarelo, mas…..

Angela Merkel bebeu Budweiser, a cerveja americana patrocinadora do evento. Tudo bem, né? Afinal, ela era a poderosa, mas simples e sem frescura primeira-ministra do país campeão de futebol de 2014.