Categorias:

A sopa de letrinhas e um livro

Já andei contando por aqui sobre a dificuldade em me alimentar quando criança. Fui uma menina magricela, doente e sempre criando sustos para os meus pais. Além de rejeitar um monte de tipo de alimentos, era lenta durante as refeições. Achava mais interessante brincar com a comida.

O feijão, eu esfregava nos cabelos como xampu. A carne moída, eu cuspia. Já disse: não como carne desde pequena. O suco de laranja ou mamão, jogava na roupa para a apreciar a mudança de cor. Às vezes, jogava o prato no chão. Tanto fiz, que meu pai comprou um prato de metal, daqueles de acampamento. Enfim, deveria ser um tormento à mesa.

Mas, a festa e diversão mesmo era o dia que tinha sopa de letrinhas. Catava os legumes, comia pedacinho por pedacinho. Arrumava o macarrão em formato do alfabeto na toalha da mesa. Minha mãe dizia que talvez tenha sido assim que comecei a formar as palavras. Claro, que a massa já devia ficar bem prejudicada pelo manuseio, mas isso não era um empecilho. O bom era saber quantos “As”, “Ms” havia. Assim, poderia tentar montar meu primeiro nome: Maria.

Depois, tentava formar o nome da minha mãe, Diva. Fácil: apenas quatro letrinhas e com duas vogais – sempre havia mais vogal que consoante. A brincadeira continuava até depois do que poderia ser considerado o fim do almoço. Me irritava porque era preciso tratar da limpeza da mesa. Minhas letrinhas acabavam tomando o caminho do lixo.

Por que me lembrei dessa história da infância? Um dos meus textos, quem sabe o mais longo, foi escolhido há pouco tempo para ser publicado por uma editora de São Paulo.

Tudo começou por causa das oficinas de escrita das quais participei. Nelas conheci mestres, amigos e escritores que muito incentivaram. Desde então, venho enviando contos com temas variados e de diferentes tamanhos para vários concursos e coletâneas. Essa dinâmica tem me trazido muito satisfação interna. Alegria.

Sei que naõ posso me considerar uma escritora com “E” maiúsculo. Mas, pelo menos, continuo escrevendo e me divertindo muito com os meus personagens, tramas, frases e diálogos. Quero muito que seja apenas o início. Tenho muita história para contar.

É……as letrinhas da sopa vão ganhando vida. Minha mãe e meu pai sabiam das coisas quando me deixavam brincar e criar palavras com elas.