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A escoliose e os Jogos Olímpicos

Era uma vez uma adolescente carioca, lá pelos anos 1970, com escoliose. Por conta disso, precisou aprender a nadar aos 14 anos por recomendação médica. Tarde. Mas, era a  natação, mais uma palmilha pra nivelar o corpo, exercícios específicos diários ou um aparelho pra segurar a coluna. Melhor era pagar o mico de aprender a nadar com as crianças a ter que enfrentar o tal aparelho e, pior o desconforto diário.

Ralou pra não se afogar na piscina semiolímpica de um clube do subúrbio do Rio. Contou com a paciência do professor. Aguentou sem reclamar todas as brincadeiras que as meninas e os meninos mais novos faziam. Muitas risadas, muitos apelidos. Enfim, um dia conseguiu atravessar a piscina, mais lenta do que a turma, claro. Mas, conseguiu.

A natação passou a fazer parte da sua vida. Era a salvação do seu corpo. Daí que as competições do esporte lhe chamavam a atenção. Na sua inocência achou até que um dia poderia participar das Olímpiadas. Sem noção, não é? Mas, de alguma forma era desse jeito que se empenhava mais e mais. Os desconfortos diários também iam diminuindo.

Nessa época, já estava nas piscinas um dos maiores fenômenos mundiais da natação, o americano Mark Spitz. Foi o maior medalhista em uma mesma Olímpiada – foram 7 ouros em Munique em 1972. Só foi ultrapassado por outro americano, Michael Phelps, que conquistou 8 medalhas em Pequim no ano de 2008. Mark Spitz era um exemplo a ser seguido. Mesmo com todas as dificuldades da época, a adolescente conseguiu acompanhar muito desses Jogos Olímpicos, da abertura passando pela tragédia dos ataques terroristas.

De lá pra cá, o tema “Olímpiadas” passou a fazer parte da minha vida. É um período de alegria. Acompanho tudo. Durante anos, acalentei a oportunidade de participar de uma das equipes de produção do maior evento esportivo do mundo. Já andei contando por aqui sobre a minha paixão pelo futebol, pelo Flamengo, pelo Maracanã, pela Copa do Mundo. Adoro esporte. Adoro mesa redonda, comentários após as partidas. Não me tornei uma atleta por falta de talento. Por vontade, me tornaria.

A chance chegou em 2016, já ao apagar das minhas atividades profissionais na área. Trabalhei como nunca. Foram muitos desafios pessoais. Foram muitos desafios operacionais, logísticos e institucionais. Um deles: como convencer as equipes de segurança que o Maracanã durante a cerimônia de abertura precisaria ficar no escuro por causa dos efeitos do vídeo mapping? Com essa técnica é possível projetar imagens em superfícies, estruturas, objetos, paredes.

Esse foi um dos truques, podemos dizer assim, que encantou o mundo e deu partida aos Jogos Rio 2016. A desconfiança que pairava sobre a nossa capacidade de realizar o mega evento foi diluída, já naquela madrugada, por causa do belíssimo show.

Naquele 5 de agosto, pouco antes da cerimônia começar, depois de um dia que havia começado às 5 horas da manhã e sabe lá quando terminaria, meus olhos estavam ao alcance da pira olímpica. Havia participado do primeiro teste madrugadas antes. Estava ansiosa para vê-la iluminar o estádio, iluminar os corações olímpicos. Ao mesmo tempo, me mantinha atenta a tudo: ao fone do meu rádio, ao WhatsApp e às ligações dos dois telefones celulares. Revi na minha mente o passo a passo da cerimônia, como deveria agir caso algo saísse do previsto, caso houvesse uma urgência.

Aí, a pira foi acionada pelo maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima. Não deu pra segurar: chorei muito. A imagem das braçadas do nadador Mark Spitz me veio à mente. Aquela emoção dos tempos de adolescência voltou como num sonho. Mas, era eu, de verdade. Estava ali na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos e no Rio.

Nem sei qual seria a melhor forma pra descrever minha emoção. Naquele momento, já tinha minha medalha de ouro olímpica. Nessa semana, com a abertura dos Jogos Olímpicos de Tóquio já sei que vou chorar de novo. Desejo muita sorte a todos que lá estão.