Categorias:

Vivendo o 7 x 1 por dentro

Ih, virou passeio”, essa frase não dá pra esquecer. A voz quase sem força do Galvão Bueno até hoje martela a cabeça de muitos brasileiros. Mais ainda, de quem estava na retaguarda da Copa do Mundo de Futebol em 2014, como eu.

Fazia parte de uma equipe enorme que estava trabalhando muito, muito, pra que tudo desse certo. Como já disse, eu era responsável pelo grupo de Protocolo da “sede Rio de Janeiro” que produzia, gerenciava e organizava tudo o que estava relacionado aos convidados Vips e super Vips, entre eles, reis, rainhas, príncipes, autoridades governamentais.

Até a data de 8 de julho de 2014, todos nós tínhamos a esperança de ver a seleção brasileira campeã no Brasil no gramado do Maracanã. Seria um luxo, uma taça para todas as pessoas que ralaram muito, dormiram pouco para fazer o futebol brilhar. Mas, nessa data, a Alemanha dissolveu a esperança dos nossos corações e mentes.

A cada jogo, a cada etapa eliminatória, a tal esperança de ver o Brasil campeão se renovava. Mas, os gols de Thomas Müller, Miroslav Klose, Toni Kroos, Sami Khedira e Andre Schürrle puseram tudo abaixo. Desolador.

Hoje, 8 de julho, lembrei de novo não só pela data em si, mas também pela semana de final da Copa América e da Eurocopa. Os anos passaram, mas fiquei surpresa comigo mesma. Já não pensava nessa dor há algum tempo. Parece que foi sumindo da minha memória tamanha foi a tristeza provocada. Acho que isso acontece de propósito, o cérebro vai dando um tempo pra gente assimilar tudo bem melhor. E, depois, faz a gente esquecer.

Tem coisa que, principalmente no futebol, não é bem digerida jamais. Lembrei do que os meus tios e o meu pai contavam sobre o “Maracanazo” em 1950. Aquela derrota do Brasil para o Uruguai por 2 x 1 deve ter doído demais. O Maracanã acabara de ser inaugurado. Era a joia da cidade. Imagina quase 200 mil pessoas esperando gritar “é campeão” e  acabar saindo do estádio aos prantos?

Em 2020, na data de aniversário do fatídico 7 x 1, troquei mensagens dentro de um grupo de WhatsApp que a nossa equipe mantem até hoje. A troca foi muito interessante. Muita gente se pronunciou. A lembrança inesperada daquele dia doeu muito mesmo.

Nem todos estavam no Maracanã naquele dia. Ainda havia jogos em outras sedes e, também, havia o processo de desmontagem em outras. Alguns integrantes do grande grupo já haviam voltado para suas residências. Estávamos separados cada um em uma cidade, cada um no seu posto, mas vivemos o mesmo sentimento de desgosto, de decepção juntos. Abaixo, parte da troca de mensagens.

Gente, há pouco me veio na memória aquele lamentável episódio de 6 anos atrás: o 7 x 1. Me bateu uma tristeza! Mas, ao mesmo tempo, saudade de todos e de tantos momentos inesquecíveis. Aliás, nem sei como lembrei disso. Abraços virtuais a todos. (Guiga)”

“Dentre as muitas lembranças, me lembro de um flash. Andando à noite na véspera no Mineirão saindo da zona mista (local no caminho do gramado e dos vestiários onde os jornalistas credenciados conseguem conversar com os jogadores) para área de competições, revisando os zoning posters (cartazes que têm os símbolos e números da áreas internas divididas em zonas, cada uma tem uma cor e sua respectiva permissão de acesso definidas previamente. Tudo isso, consta na credencial de cada membro das equipes). Tinha uma tevê na parede. E, também, os escudos das 2 seleções (🇧🇷 0 x 0 🇩🇪) e um cronômetro faltando mais ou menos 14 horas para o jogo. E eu pensando: amanhã é o grande dia! (Maurício)”

“Miranda (gerente geral do Maracanã) mandou a gente pra casa. Eu estava trabalhando com mais uma pessoa na nossa pequena sala dentro do Maracanã, que àquela altura estava vazio. O silêncio era incrível. Ele ficou com receio da nossa volta pra casa com uma cidade que parecia abandonada, sem ninguém na rua. Uma cidade fantasma à espera do jogo que poderia nos levar à final de uma Copa do Mundo na nossa casa. Eu tinha muita, muita coisa pra fazer para a final do domingo, 13, fossem quais fossem as seleções. Quando cheguei em casa, o jogo já estava rolando. Liguei o computador. Retomei o trabalho. De repente, só ouvia “gol da Alemanha”. Pesadelo!(Guiga)”

Nós da Comunicação estávamos no HQ (Head Quarter) no forte de Copacabana, juntamente com toda aquela galera de Zurique, do FIFA.com, do media channel, melhor dizendo, com todos aqueles alemães, que em um dado momento decidiram se calar. Uma bonita demonstração de respeito e solidariedade conosco que ali estávamos. (Lívia Caroline)

Eu assisti sozinha, em São Paulo, estávamos de folga naquele dia….acho que nunca mais vou ver São Paulo naquele silêncio como naquele dia….foi gol atrás de gol. Um silêncio absoluto tomou conta da cidade toda. Ninguém nem nada nas ruas….pesadelo! (Selene)

“Eu estava lá, na tribuna no 1º tempo e no FOP(abreviação de Field of Play. É a denominação do gramado e boa parte da área que envolve as operações que dizem respeito à partida) no 2º tempo no Mineirão. Que dia…. (Diego Martins)

O HQ (Head Quarter) virou um velório… ninguém falava nada… ninguém olhava pra cara de ninguém… (Victor)”.

“Eu estava em SP, já organizando os pontos de controle de acesso para o dia seguinte, Holanda e Argentina, jogo que definiria o adversário da Alemanha. Nem vi o jogo porque estava com a equipe passando as coisas. Os voluntários só iam entrando e avisando a cada gol. E a gente achando que eles estavam zoando com a gente. (Flávia)”

Nossa equipe também tinha um canal de rádio que ficava aberto em dias de jogos. Era uma forma de cada equipe em cada canto do país acompanhar a operação de cada partida. Aprendíamos muito. Nessa noite, ele emudeceu. Achei até que estava sem bateria. Mas, vi que a luzinha verde de “on” estava acesa.

Era o silêncio de uma derrota que atingiu todo o país. Mas, nós estávamos dentro do cenário do mega evento. Sentimos o impacto da derrota de muito perto, de dentro do teatro das operações da Copa do Mundo de 2014. Que dor! Pelo menos, foi uma dor que passamos todos juntos.