Sempre quis ser divertida. Daquelas meninas que têm uma forma peculiar de ver o mundo e que as espalham de maneira engraçada. Nunca fui e não sou assim. Nem tento mais.
Todas as vezes que me animei, foi um desastre. Além disso, não sei contar piadas. Se arrisco, me enrolo no ritmo das frases que acabam perdendo a graça. Não consigo provocar risos nem chamar a atenção por causa de uma história, ao menos, espirituosa. Chato constatar, mas é a real.
No entanto, me considero uma pessoa bem humorada. Procuro acordar feliz, por exemplo. Sei o quanto é importante despertar bem e agradecer por mais um dia. Isso não significa que em alguma manhã o desânimo e a tristeza não tenham prevalecido. Quando isso aconteceu, foi muito difícil manter a meta de abrir os olhos e acreditar que tudo vai melhorar.
Esses momentos foram desafiadores. Parecia que nada ia dar certo. Daí que podia ser melhor ficar na cama e se proteger dentro de um quarto escuro debaixo do edredom. Depressão dá nisso. A boa notícia, pelo menos, no meu caso é que passou. Quando essa fase foi embora um portal iluminado se abriu diante de mim. O relógio da vida voltou a rodar sem solavancos soturnos.
Admiro quem nasce com a capacidade de contar piadas e de fazer outra pessoa rir, mesmo em momentos mais difíceis. Uma boa e generosa gargalhada pode salvar qualquer um. Não é a toa que grupos voluntários se apresentam em hospitais para levar riso e conforto para quem, às vezes, não têm mais em quê acreditar. É uma valorosa atitude. Pode não curar, mas alivia o peso da doença. Rir é fundamental.
Gosto também de quem faz chacota de si. O dia a dia é tão cheio de obstáculos que não se levar a sério pode ser uma chave para o bem estar. Cair e demorar a se levantar porque as risadas nos fazem perder o fôlego é um bálsamo. “O mundo é um lugar sombrio em que você precisa rir ou vai chorar o tempo todo”, como disse o diretor irlandês-britânico Martin MacDonagh do filme “Os Banshees de Inisherin” (O Globo, 1 de fevereiro de 2023)
Risos devem acariciar as nossas almas e nos tornar mais leves nunca provocar sofrimento. Bullying está fora de questão.
