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Quebrando borboletas

Difícil. Mas, um dia, as borboletas se quebraram e me mostraram que minha trajetória não foi bem como imaginei. Desilusão, dor, desânimo. Esses três “Ds” quando se encontram deixam rastros reais e, ao mesmo tempo, indesejáveis. Vontade zero de agir. Impaciência com tudo e com todos.

Acho que passei boa parte da existência acreditando que a melhor fase, o peso ideal ou a emprego perfeito uma hora iria chegar. Mesmo erguendo a cabeça, metendo o pé e indo na fé...nem tudo chegou. Nada contra à letra da canção. Acredito de verdade que esse tipo de hino à esperança possa ajudar. Mas, tenho lá minhas dúvidas, principalmente, nas minhas observações diárias.

Fui levando os anos debaixo dessa ilusão de que sempre haveria uma luz a mais no fim do túnel. Um dia, quem sabe, seria completamente feliz e realizada. É como se sempre estivesse aguardando que o mundo se conformasse com o que sou e, por agradecimento aos esforços, me devolvesse a graça de uma vida sem atropelos e plena.

A cada derrubada – como ando passando agora por conta da tendinite e das dores – esse tipo de reflexão teima em ressurgir nas minhas frases e textos. Faço uma checagem como foram as borboletas que criei no meu caminho. Elas são coloridas. Voam leves e com charme de um lado para o outro. Se encantam com o sol que brilha mesmo no inverno, se protegem do vento e da chuva.

Procuro rever o que concebi para mim desde quando achei que já poderia. Penso que foi cedo. Fui uma criança solitária e de imaginação recheada de histórias e personagens. Galinhas, coelho, formigas, bonecas e plantas eram a plateia. Ouviam com atenção os contos. Em um determinado momento, comecei a escrita da minha própria história como se estivesse lhe dando com um personagem: eu mesma.

Tem sido difícil admitir que nem todos os rascunhos que elaborei viraram realidade. De fato, não ficaram bons. Foram pífios. Pensando bem foi até bom que não se concretizassem.

Não mantive o corpo de bailarina que imaginei. Não me tornei uma figurinista com prêmio em Cannes ou Hollywood. Não fui trabalhar em uma grande Maison em Paris. Não consegui correr, ao menos, os 21 k de uma meia maratona. As borboletas que inventei se espatifaram. Não eram mesmo eternas.

Fui percebendo que outras lagartas poderiam estar no meu entorno. Eu é que não as via. Apareceram. Se transformaram em outras borboletas. Participei dos maiores eventos do mundo – Copa do Mundo e Jogos Olímpicos sem sair da minha cidade -, tenho um filho, uma neta, faço musculação e alongamento. Escrevi um livro já na maturidade – essa borboleta custou a sair do casulo.  Vibro com cada vitória do Flamengo. Agradeço cada dia em que acordo no Rio de Janeiro. Estou viva.

Essa impaciência e insatisfação só podem ser resultado desagradável da menopausa. Um saco.