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O desafio de cada manhã

A cada dia, quando levanto da cama, acredito que o dia será melhor do que o anterior. É o desafio de cada manhã. Já disse por aqui, que fui treinada por um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial e uma imigrante, meus pais, para tanto. Superaram juntos as dificuldades de um casamento interracial, a distância do lar da minha mãe, as baixas reservas financeiras e a adaptação a uma cidade complexa, como o Rio de Janeiro, à época, estado da Guanabara, capital federal do Brasil.

Foto: Eduardo Alonso

Hoje, não foi diferente. Apesar do cansaço, do medo desses novos ventos de guerra e dessa pandemia que ainda não acabou, resolvi lembrar do treinamento. Já que abri os olhos, já que o sol sorriu para mim, levantei para dar conta do meu dia. Lembrei: você está viva! Tenha coragem.

Bem que as dores dos treinamentos dos dias anteriores tentaram me demover dessa etapa do treinamento. Envelhecer tem dessas coisas também. Com o passar dos anos, após as noites de sono – quando ele não resolve me abandonar – as dores costumam aparecer a cada manhã. Já fiz várias perguntas às pessoas que me acompanham (treinador, terapeuta, médico) se isso é comum. A resposta: “Faz parte! É assim mesmo. Se não for em excesso…..”

Outras correntes dizem que também tem a ver com estresse e ansiedade. Pode ser até que por conta dos motivos que já citei, esse estado matutino seja normal. Acho que com tantas notícias sobre a instabilidade mundial e as complexidades que possam levar a uma solução, é muito difícil que o nosso corpo não somatize algum sentimento .

Não sei você, mas eu venho refletindo muito sobre essa guerra insana da invasão da Ucrânia pela Rússia. Mesmo sem ter muito conhecimento sobre ciência política e geopolítica – deveria ter estudado mais, me aplicado mais nas aulas da pós – procuro acompanhar. A população civil me aflige. Meu coração se parte a cada imagem, a cada nova informação. Que bom que ele se regenera. Imaginar uma mulher na hora do seu parto ouvindo bombas ao seu redor é algo que nunca ousei pensar.

Foto: Eduardo Alonso

Mas, o treinamento deu conta. Levantei, me vesti e fui correr na esteira da academia. 5,22 km depois a endorfina tomou conta do meu ser, me fez pensar melhor e agradecer de novo a vida. Me deu força também para orar mais por aqueles que estão na Ucrânia e também por aqueles que precisam se entender e encontrar uma saída para esse conflito doloroso.