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Nunca tive uma Barbie

As lágrimas e a sensação negativa de não ter tido uma boneca Barbie estão comigo. Quando penso assim, ou sobre o que outra qualquer decepção infantil me trouxe, digo para mim mesma: “cresci”.  Vamos em frente.

Apesar de que acredito que certas emoções, sejam elas de que tipos forem, ficam grudadas na gente. Não descolam jamais. Só depende o que é feito com isso. Sempre espero que virem aprendizado e não frustação.

Fui ver “Indiana Jones e o chamado do destino” – amo séries nos canais de streaming, porém adoro a telona. Foi nessa tarde que tive a triste lembrança quando assisti ao trailer. Em meio ao monte de estreias, lá estavam cenas do filme da diretora Greta Gerwig com Margot Robbie, personificação da boneca, Ryan Gosling como “Ken” e uma  lista de atores conhecidos.

O cinema foi invadido da cor rosa. Meu coração de tristeza. Lembrei das vezes nas quais pedi uma “Barbie” de presente. Todas em vão. Não havia grana para comprar uma boneca importada. Criança, não me dava conta desse detalhe: a boneca era americana. Na verdade, só mais tarde, percebi que eu queria mesmo era uma boneca “Susi”, um modelo fofo da Ideal Toys Corp, também dos Estados Unidos, e fabricado pela brasileira Estrela.

Lançada em meados dos anos 1960 como uma fashion doll , Susi tinha um guarda-roupa com peças que eram moda na época. Cheguei a cortar e costurar a mão saias e blusas para a boneca que nunca veio, que nunca experimentou minhas criações. Só perdeu espaço para a genuína “Barbie” no início dos anos 1980, quando a mesma fábrica de brinquedos recebeu a licença da americana Mattel.

“Barbie” e “Susi” se confundiram na minha cabeça. Eram diferentes, porém, para uma menina que amava conversar com animais, personagens transparentes e bonecas, as duas eram iguais. Poderiam ser excelentes companheiras. Eram fáceis de carregar para lá e para cá, cabiam em uma bolsa pequena.

Eram elegantes e articuladas, o que permitia trocar as roupas de acordo com o evento do meu roteiro. Amava essa possibilidade imaginária. Acabaria também inventando uma história para elas. Na minha criatividade solitária, poderiam interagir com o coelho, o cachorro, os patos, os passarinhos e as galinhas do quintal da nossa casa no subúrbio carioca.

Nada disso aconteceu. Nunca tive uma “Barbie” nem tampouco uma “Susi”. Tive outras bonecas. Teria sido show se uma delas ou as duas tivessem feito parte da minha infância e vivido o que eu imaginei para elas. Agora, me resta ver o filme e curtir o que o roteirista e a diretora inventaram para boneca mais famosa do mundo.