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Na corrida e na vida, às vezes, é preciso parar

Como muita gente já deve ter percebido, estou em fase de recuperação física. Esse tema tem sido recorrente nos meus textos e posts. Sofri muito durante quase um ano com a fascite plantar no pé direito. Meus quadris, a coluna lombar e os joelhos sofreram juntos. Um simples caminhar da minha casa até a esquina já era motivo de muita dor. Os quilos a mais, que já haviam surgido com a parada forçada por causa da pandemia, se tornaram outro empecilho para a retomada da atividade física e do meu bom humor.

Desde que pude voltar a me exercitar com mais tranquilidade – o cérebro continua lutando com a possibilidade do retorno da dor – e intensidade, venho travando uma batalha comigo mesma. É isso: é preciso coragem, como dizia minha avó. Já até escrevi sobre o assunto: precisamos de força para a cada manhã levantar da cama, agradecer e ir em frente. No entanto, agora, percebi que na corrida e na vida, às vezes, é preciso parar. Há muitos benefícios, mesmo que essa parada seja dolorosa, como foi no meu caso.

Faço parte de uma comunidade de mulheres que, desde o início da pandemia, se exercitam juntas via Zoom. Seguimos os passos da nossa professora de Pilates, Carol Brasil, que em poucos dias tão logo o fechamento da academia se concretizou em 2020, arrumou um jeito de não deixar suas alunas sem exercícios físicos.

De uns tempos para cá, ela começou também a preparar corridas guiadas que podem ser feitas quando cada uma desejar e puder. Os treinos variam muito, assim com, os estímulos. Eu ansiava em poder fazer parte também desse time de corredoras, ainda que na esteira da academia. Mas, precisava recuperar o mínimo de equilíbrio e de confiança para voltar a correr. Nesses últimos dois meses, aos poucos, tenho conseguido acompanhar os treinamentos sempre respeitando os meus limites. Em breve, quero correr na rua.

Um desses treinos tem como caraterística algumas paradas. A gente nem caminha ou trota de leve: para mesmo. Depois, volta a correr. Esse processo acontece mais de uma vez e tem como objetivo ensinar o corpo e, principalmente, o cérebro a retornar ao estímulo da corrida. Esse vaivém foi desafiador. Depois que a gente já está correndo, o coração vai se habituando aos batimentos mais rápidos e os metros vão sendo vencidos a cada passada, o que provoca uma grande satisfação. Os hormônios vão dando conta do recado. Enfim, é difícil tomar a decisão e parar, mesmo que seja para nosso benefício e para um ganho futuro.

Hoje, uma das alunas e companheira da comunidade enviou um depoimento no nosso grupo com a mesma conclusão que eu cheguei após esse treino. A gente tem dificuldade de parar. Melhor, a gente não se permite parar e refletir sobre a nossa vida, nossa família e sobre nós. Acho que as mulheres sofrem mais com esse tipo de atitude. As cobranças são altas. Nos habituamos a tocar a nossa rotina sem pensar. As consequências, em geral, chegam de maneira inesperada e desagradável. Podem vir através de uma doença física, emocional ou mental. O resultado nunca é positivo. Portanto, parar é preciso.

Eu agradeço sempre a todos que me acompanham até hoje, principalmente, a esse treino que me ensinou a parar e a retomar a corrida e a vida.