Categorias:

Fuso horário e confusão cerebral

Fuso horário é uma droga. Acho que pode até levar à loucura. Dizem – acho que sem comprovação científica – que o ajuste do relógio humano se acerta conforme a quantidade de dias correspondente à diferença das horas.

Ou seja, se o fuso horário é de cinco horas para frente ou para atrás, por exemplo, depois de cinco dias o hipotálamo, região do cérebro responsável pelo controle dos nossos ritmos biológicos, se alinha à nova rotina.

Há controvérsias pelo o que andei passando. Tento fazer de tudo para me amoldar às mudanças quanto aos horários de dormir, acordar, comer, me exercitar. Nada funciona bem.

No primeiro dia, meu cérebro desliga sem saber o porquê. Fico zonza. Daí que não tem jeito: preciso ir para cama e tentar dormir. Disse tentar. Se pego no sono, claro, acordo fora do horário natural das atividades diárias do local onde estou. Em geral, desperto no meio da madrugada sem saber onde estou.

Tento seguir a listinha de itens que podem ajudar a ultrapassar essa dificuldade. Não tomo café nem no voo, fecho bem as janelas quando vou dormir, bebo mais água, evito bebidas alcóolicas.

Fico imaginando como deve ser a vida dos pilotos e da equipe de bordo dos aviões. Tenho vontade de perguntar. Quem sabe poderia me ajudar. Recuo diante do volume das tarefas e da atenção que precisam dedicar aos passageiros. Sempre tem muita gente querendo arrumar problema.

Em uma das últimas noites – estou cinco horas à frente do fuso horário do Rio – acordei em Kiev. Olhava para fora da janela do nosso apartamento. O prédio era em frente a uma praça destruída pelos drones russos. Fazia frio. O sol teimava em aparecer sob a neblina.

Indecisa, eu não sabia se saía de casa, se arrumava a cama ou se rezava. Olhava para um lado e para o outro e enxerguei, ao longe, um grupo de crianças vestidas de azul e amarelo, as cores da bandeira da Ucrânia. Vinham cantando uma música de melodia triste e arrastada. Pararam quando chegaram na praça repleta dos destroços de guerra. Começaram a chorar.

Assustada, acordei de verdade. Eram 3 horas da manhã. Respirei aliviada e agradeci por estar bem, mas com aperto no coração.

Na manhã seguinte, me dei conta do motivo pelo qual meu cérebro ainda confuso criou esse sonho. Na tarde anterior, havia visto um evento em uma praça da cidade para arrecadar fundos para crianças ucranianas. Por aqui, na Alemanha, há muitas iniciativas e ongs que se dedicam à ajuda aos imigrantes que fugiram da guerra.

No entanto, há uma boa notícia: meu corpo vai adaptando.