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Esperando Papai Noel

Todas as luzes da casa já estavam apagadas. Chovia fino. Papai Noel deveria estar com um guarda-chuva vermelho gigante para não deixar molhar o saco de presentes. Era assim que a garota imaginava. Saiu da cama em busca de algo diferente. O entorno da árvore de Natal estava do mesmo jeito: sem nada diferente. As bolinhas brilhavam com um rasgo de luz que entrava pela veneziana.

A mãe percebeu o movimento. Vendo a menina sentada no chão da sala pediu que ela voltasse para o quarto e explicou que Papai Noel só chegaria dali a alguns dias. “Vou não. Vou esperar meu presente”.

Eu tinha 4 ou 5 anos. Passei dias esperando pelo presente.

A falta de grana impediu que eu tivesse uma bicicleta antes. Todos as crianças da rua tinham uma. Nem sei se eram maiores do que eu ou não. Como era magrinha, mas alta sempre me dava com gente mais velha. Ficava encostada no bouganvile da calçada apreciando o barulho das rodas de metal. A memória do desejo é tão intensa que já escrevi outras vezes sobre o Natal e a bicicleta. Acho que ainda voltarei ao tema.

Despertei algumas outras noites para ver se o meu pedido havia sido entregue. Sem noção nenhuma de tempo.

Afinal, o 24 de dezembro chegou. Nós passámos a data com a minha avó brasileira. Naquela noite, a casa centenária em São Cristóvão, no Rio, se transformava em um palácio de alegria, rabanadas e afeto. Depois da ceia, dormíamos por lá mesmo. Morávamos no subúrbio e havia muita dificuldade para retornar.

No dia seguinte, no caminho de volta, meus pensamentos retornaram para o meu sonho. Sempre tagarela, pouco abri a boca. Crianças sabem bem o que as aflige. Ficam caladinhas sem entender o porquê do silêncio. Será que o bom velhinho havia lido meu bilhete de letras tortas?

Corri para o portão logo que chegamos perto de casa. Quando a porta da entrada se abriu, lá estava ela. No guidão, dois lacinhos vermelhos. Paralisei.

 “Epa, não vai pegar o seu presente?”. Meu pai ainda com a chave na mão me incentivava a sair do lugar. A cabeça rodava num misto de felicidade e dúvidas.

Não conseguia entender como a bicicleta amarela teria ido parar dentro da sala. Na minha casa não havia chaminé. Crianças.

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