“Sonhar não custa nada. E o meu sonho é tão real”. É assim que começa o samba-enredo de 1992 da escola de samba carioca Mocidade Independente de Padre Miguel*. Me deixei levar por ele quando pensava como iniciar o primeiro texto de 2024.
Confesso que foi difícil começar. Fiquei um bom tempo refletindo sobre o que comentar ou ficcionar. Sei que nada disso aconteceu por um sentimento nostálgico de 2023. Ou porque me frustrei com ele. Ou porque não alcancei o que desejava. Mas, sim, porque como essa página, 2024 ainda está vazio, sem frases e parágrafos. Preciso preenchê-lo. Tenho muitas ideias, projetos e planos na cabeça. Me deu até uma certa aflição.
Serão 366 dias – dessa vez, o ano é bissexto – que estão para serem redigidos e roteirizados. E, depois, é claro, realizados. Queiramos ou não, teremos que cumprir com essa tarefa: ir em frente e escrever a nossa vida nas páginas em branco de 2024.
Passados os minutos iniciais de angústia da página em branco, fiquei pensando que sonho seria aquele que eu queria sonhar e o que queria que dele se concretizasse. Em seguida, imaginei como seria despertar dele.
E se eu acordasse e não tivesse mais nenhuma guerra no mundo? Se eu abrisse os olhos e não visse mais ninguém discutindo sobre política ou vacina? E se eu ligasse a TV e a manchete em edição extraordinária fosse a cura do ódio e da intolerância?
E se eu lesse nas redes sociais que a misoginia e a transfobia estavam banidas do mundo? E se eu abrisse o dicionário ou um buscador da web e não encontrasse as palavras racismo e xenofobia? E se andasse pelas ruas de qualquer cidade e encontrasse empatia, paz e entendimento? E se todos entendessem que o bem maior da humanidade é o amor?
Não teve jeito. Voltei ao samba.
“Deixe a sua mente vagar
Não custa nada sonhar
Viajar nos braços do infinito
Onde tudo é mais bonito
Nesse mundo de ilusão
Transformar o sonho em realidade”
Esse jogo do “se” bem que podia se tornar real em 2024, ao menos, no coração da maioria dos seres humanos. Já seria parte do meu sonho se concretizando e um mundo melhor para todos.
- *Composição: Dico da Viola / Moleque Silveira / Paulinho Mocidade.
