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Desabafo por causa de uma calça jeans

Fiquei sem ar. Sensação esquisita. Me senti como as damas das cortes quando seus espartilhos eram ajustados pelas camareiras dos castelos. Estava tentando comprar uma calça.

Na hora, lembrei do filme “Marie Antoinette” – dirigido por Sophia Coppola e ganhador do Oscar de “Melhor Figurino” em 2007 –  e “E o vento levou”, que tornou célebre a cena em que o corset de Vivian Leigh é fechado pela empregada.

Já tinha horror ao cinto do uniforme do colégio de freiras quando criança. Me apertava. Imagine agora que não consigo encontrar uma peça de roupa que vista bem em mim, principalmente, jeans. Nutricionista e mudança do programa das atividades físicas já estão em andamento.

Fico pensando se é implicância com a onda das cinturas altas –  usei esse tipo de calça nos anos 80. Mas, agora, tá complicado: nem o GG cabe em mim. Tudo me deixa com a sensação das damas das cortes: sem ar.

Entendo que a moda muda. De tempos em tempos, determinadas silhuetas de outras décadas voltam a ser revisitadas com pitadas de contemporaneidade. É assim mesmo.

Pode ser, por outro lado, que não encontre alguma peça que me agrade exatamente porque tenho preguiça de experimentar roupa.  Interessante é que ouvi de uma amiga –  somos conhecidas desde os tempos em que trabalhei com figurino, produção de moda e como stylist – que esse tipo de comportamento não combina comigo. Respondi que foi por conta dessa fase da minha vida que me tornei uma pessoa sem paciência mesmo. Gostava de trabalhar para os outros.

Além disso, não provo roupa em cabine de loja. Se compro, experimento em casa. Troco caso não fique boa ou não me agrade. Não me pergunte os dissabores que já passei, principalmente, em viagens.

Outro detalhe que venho constatando é que, na maior parte das lojas nacionais, os manequins param no 46 ou no G. Maior do que isso somente em algumas redes de produtos esportivos ou de fast fashion. A maioria da modelagem brasileira acredita que as mulheres deste país têm as mesmas curvas, o mesmo biotipo e a mesma idade.

Nossos corpos são muito diferentes e com proporções idem. Somos fruto da miscigenação que, também, produz tantos tipos de fios de cabelos diferentes, por exemplo. Não somos iguais mesmo levando em conta a faixa etária, a classe social, a condição financeira ou o estilo.

Somos diversas dentro da nossa própria diversidade.

Ao que parece, mais uma vez, a silhueta vai mudar. Aguardo o retorno da cintura ao lugar mais perto do umbigo. Acho que vou encontrar uma calça jeans de corte básico em breve. Espero também que os quilos a mais decidam passear e não voltem jamais. É o que mais importa já que a taxa de colesterol anda teimosa.