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Como uma viagem rápida de trem

Em uma manhã fria do outono alemão, 11 graus,  peguei um trem para ir a uma cidade a pouco mais de 130 km ao sul de onde estou. Apesar de não ser a forma mais em conta, era a mais fácil para visitar um belo lugar. Passeio há muito desejado pelo meu marido aficionado em tecnologia, motores, carros: o Museum Mercedes-Benz em Stuttgart.

O processo de compra via internet foi simples e rápido. Como nada é perfeito, o trem atrasou 15 minutos, o que não é esperado para os rígidos padrões alemães. Saiba: acontece.  

Os avisos sobre o atraso vieram pelo alto-falante e pelo e-mail. Fui me virando com o aprendizado da língua que tenho no momento. Há pouca informação em inglês, ao menos, na estação onde estávamos. Sei que em cidades maiores já existe mais indicação para turistas ou pessoas que não são fluentes na língua alemã. Algo comum em um país com alto índice de imigração e visitantes.

Enfim, ele surgiu. Imponente, o trem preencheu a paisagem com sua forma cinza desenhada para levá-lo a 250 km de velocidade. Acredite: chegou.

Na meia hora de viagem, fiquei observando a paisagem e a mudança de cenários – ora área rural, ora de pequenos vilarejos típicos da região. Acabei pensando que a vida tinha muito mais a ver com aquela viagem e com aquele trem do que eu imaginava.

Voltei a mente para a espera na plataforma. Estava repleta de um monte de pessoas que a gente nunca viu, não sabe de onde vinha ou para onde ia, o que desejava, o que estava vivendo. Desconhecidos.

De repente, alguém para e faz uma pergunta à procura de uma interação. Você tenta responder ou fazer um gesto de que quase entendeu. A pessoa vai embora ciente que aquele papo não tinha mesmo como ir adiante. Tudo bem. Segue seu rumo. Não há vínculo de nenhuma das partes nem ressentimento.

Dentro dos vagões, cada um se coloca onde pode ou onde reservou lugar. Ninguém pergunta nada. Nem checagem de bilhete, ao menos, no nosso vagão houve. Tudo parece fluir como uma valsa nos salões de Viena do século 19. Silêncio. Vez por outra, a voz da mulher que conduzia o trem, trazia alguma informação sobre a viagem, sobre as conexões.

Chegamos à estação final. Todos desembarcaram. Tomaram seus destinos: lares, escolas, escritórios, outros trens. A vida continuava sem perturbação, sem ninguém saber de ninguém, sem conhecer a história por trás de cada casaco, de cada mala.

O trem partiu de novo da plataforma. Acho que para o enorme pátio de manobras à espera da nova ordem para mais uma viagem de um monte de rostos que não se conhecem, que não perturbam ninguém ou desejam ser perturbados.

A vida pode ser assim. Muitas pessoas chegam, não ficam. Outras tentam contato, não são correspondidas e se vão. Pouquíssimas surgem e permanecem até uma próxima viagem.