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Cadê o buraco da agulha?

A cada dia, uma novidade, nem sempre agradável, é bem verdade. Fico sempre imaginando qual a será a próxima. Esse caminho do envelhecimento e da pós-menopausa tem dessas coisas.

Você ali, no seu cantinho mental, percebendo o movimento ao seu redor sem levar em conta as horas, os dias os anos passarem. Num saltar de um segundo, cai na real sobre a sua idade biológica. Acontece muito comigo. Não dou muita atenção, mas vire e mexe me assusto mesmo.

Já me choquei com os quilos a mais que insistem em ser meus companheiros de jornada. Repito: não quero esse tipo de companhia. Sei que não terei mais a silhueta dos tempos em que praticava balé. Mas, sei também que não preciso desse tipo companhia tão numerosa. Pode ser em menor quantidade. Estou na busca de como deixar de lado alguns desses amigos, os quilos, indesejáveis pela estrada da vida.

Cabelos brancos tenho desde os 30 anos. Característica da família paterna. Meu filho com a mesma idade já os tinha. Minha sobrinha começou a conviver com uma grande mecha grisalha aos 20 anos. Enfim, parte do jogo genético.

Falta de sono me irrita. E, aí, quando mais irritada fico, menos encontro o sono. Não curto remédios pra dormir. Tomei uma vez por orientação médica e achei péssimo. Passei o dia seguinte como um personagem do seriado “The Walking Dead”. Foi tão ruim que não consegui nem me alimentar corretamente.

Daí, que tenho a atividade física como aliada. Com esses tempos de pandemia, coronavírus, confinamento, blá, blá, me atrapalhei. Consegui manter, pelo menos, as aulas de Pilates online. Quando pude voltar pra academia mesmo sem a frequência desejável minhas noites ficaram bem mais tranquilas. As caminhadas pela orla da praia são outro indutor do meu sono. Sono reparador.

Com o passar dos anos, o sexo também se modifica muito. Tenho por mim que precisamos superar mais essa novidade que a idade nos traz. Cada dia é um dia. Já que estou viva, preciso aceitar as novas regras e continuar. Uma pessoa ao seu lado compreensiva e ciente de que os anos passam para todos é fundamental. Aliás, a outra opção à vida, ou seja, a morte é pior, não é?

Mas, num belo dia, não consegui colocar a linha em uma agulha. Precisava costurar um botão em uma camisa branca. Amo camisa branca. Foi um tormento. Pra começar, achei que meus óculos não prestavam mais. Fiquei puta da vida. “Será que terei que levar a minha camisa em uma loja de consertos apenas pra colocar de volta um botão?”, pensei.

Nada me irritou mais naquele dia. Troquei de agulha. Troquei de linha branca. Cortei as pontinhas da linha. Minha chateação foi tamanha que deixei cair no chão a caixinha onde guardo botões, linhas, alfinetes. Coisa de quem um dia foi figurinista e produtora de moda e tem todo esse tipo de apetrecho dentro de um só lugar. Lá, também tem fitas, argolinhas, colchetes, fita crepe, enfim, tudo. Claro, fiquei mais irritada. Tudo espalhado pelo chão.

Não me rendi ao buraco da agulha. Virou um desafio vencê-lo. E, nada como uma lupa para me ajudar nessa tarefa desagradável. Claro, que mais uma vez percebi que a realidade sempre se impõe. Ou seja, outra descoberta super sem graça, mas consegui passar por ela.

Vivenciando mais um episódio nesse caminho do envelhecimento, cheguei à conclusão de que foi muito barulho por nada. Melhor trocar as lentes dos óculos. Viva la vida!