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A força do mar

A tempestade da noite anterior se foi com a chegada da manhã. Lola caminhava pela praia quase deserta. Águas mornas, céu azul, areia ainda úmida. Coqueiros tranquilos. Isso era o que ela sempre desejara. Paz.

Foi difícil acreditar que aquilo tudo não era sonho. Um sonho que havia se repetido ao longo de dez anos. Era tudo mesmo real. Afundou os dedos na areia fofa, chutou algumas folhas, chegou perto da espuma das ondas. A água abençoou seu corpo.

Abriu os braços de frente para o mar. Precisava agradecer. Foi ele que lhe havia enviado a força para encontrar seu caminho. Foi difícil, porém agora era só seguir em frente. Iria voltar à capital e mergulhar nos estudos de enfermagem mais uma vez. As outras tentativas haviam sido em vão. Não teve energia. Se perdeu entre a angústia e a indecisão.

Um dia se deu conta de que havia sucumbido a desejos que não eram seus, a frases e promessas que não pertenciam a ela. Tudo não passara de uma ilusão. Nada correspondia à sua vontade de ser feliz e aceita.

Lembrou do dia em que o viu pela primeira vez. Estava em frente à loja de seu pai arrumando algumas mercadorias. Levou um susto. Os cabelos negros caiam pela testa, os dentes brancos abriram um sorriso de “bom dia” sem que nenhuma palavra sequer saísse da sua boca. A camisa azul claro iluminava a sua figura. Era uma miragem de capa de revista. Ficou muda.

Continuou a andar pela praia com essa lembrança. Ao longe, avistou o barco de Juan. Dessa vez, tinha certeza que estava levando para longe o choro da dor e da tristeza de um casamento infeliz e sofrido. Não era para voltar nunca mais.

Como num piscar de olhos, o céu se transformou em um cinza aborrecido. O vento entortava as folhas dos coqueiros. As poucas pessoas que estavam por ali, fugiam às pressas. O medo foi tomando conta da areia, dos pequenos bichos que se enfiaram em tocas que surgiam aqui e acolá. Um cachorro preto corria em busca de abrigo.

A chuva caiu pesada. Os pingos chegavam a machucar a sua pele. De frente para as ondas, que subiam cada vez mais para cima, Lola viu a embarcação de Juan ser engolida pelo mar em poucos segundos. Se desesperou. Não era isso que queria. Só estava cansada da violência, do pavor e dos socos.  Morte, não.

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