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Minha dor não é maior do que a sua

Pode ser estupidez. Ou, quem sabe, apenas um motivo para arranjar um tema interessante para uma crônica. No entanto, não posso passar essa semana sem refletir sobre sofrimento e dor.

Venho falando sobre as dores causadas pela tendinite na região dos quadris, púbis e glúteos. Até pouco tempo atrás já estava correndo bem, ainda que na esteira. Mantinha a esperança de participar de uma corrida de rua nem que fosse de 5K. Mas, não dá mesmo. Estou me dedicando aos exercícios funcionais, à musculação e ao alongamento. Nada de atividades de impacto nem fazer longas caminhadas. É duro aceitar.

Por hora, vamos caminhando bem. Digo “nós” porque não faço nada sozinha. Agradeço aos profissionais que estão comigo carregando mais essa surpresinha sem graça. Não gostei nada dela. Aceitei e já devolvo para o universo. Quero que voe e se evapore no ar em meio às nuvens.

Todos os dias quando vou à clínica de fisioterapia me dou conta de que sou apenas mais uma na multidão. Não estou no topo da cadeia do sofrimento físico ou emocional.

Na sala de espera, encontro pessoas de todas as idades com muletas, em cadeiras de roda ou com curativos de cirurgias recentes. Procuro ver além daqueles corpos retorcidos, cabisbaixos e clamando por algo ou alguém que lhes devolva o bem-estar e a alegria. Admiro quem se dedica à procura da cura do outro. Além da competência, é preciso paciência e empatia.

Dor, como diz uma das fisioterapeutas, é resultado de muitos fatores. É bom tratar o corpo e a mente como uma coisa só. Aos poucos, estou aprendendo como essa dinâmica exige mais tenacidade para sair da situação na qual me encontro. Não é fácil.

Precisei fazer uma revisão da minha vida nos últimos seis meses. Primeira neta, primeiro livro, primeira biópsia no meu marido, dengue, Stent no coração da minha cunhada – que é mais jovem do que eu. Foram muitas “primeiras vezes” e a necessidade de reações desconhecidas.

O resultado do esforço surgiu depois que os eventos cessaram e cada um voltou para o seu canto no mundo com saúde e felicidade. Agora, é como se eu conseguisse agarrar as velas de novo do meu barco. Navegar.

Lembrei das palavras de um professor. Quando percebia muita reclamação por conta das tarefas, das dificuldades e dos problemas individuais de cada aluno, ele saía com o texto a seguir: “Pensem que há pessoas neste exato momento que não têm casa nem comida. Estão sob ataque de tiros, bombas, granadas que não têm nada a ver com elas. A guerra não é delas. É de outros que não estão nem aí para a dor e o sofrimento dessas pessoas. Faça seu trabalho. Se dedique a você”.