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A alma do mundo precisa brilhar mais uma vez

O outono é uma época do ano que me encanta. Acho lindo essa mudança da natureza que se recolhe para receber o inverno. É um tempo de repensar. Como estou em uma temporada familiar na Europa, tudo parece mais mágico ainda. Cenário de filme.

De uma semana para a outra, o panorama muda. Assisti o calor do fim de verão iluminar e aquecer ruas, praças e pessoas. Vi as folhas verdes das árvores que davam sombra. Agora, as mesmas árvores começam a sustentar as cores do amarelo claro ao vermelho. Em algumas, os galhos secos já se mostram à espera do vento gelado e, quem sabe, da neve.

O chão dos parques mais parece um tapete cenográfico de folhas ressecadas que fazem barulho ao meu caminhar. Os animais começam a se recolher mais cedo para tocas e ninhos. Os dias demoram a acordar. As noites são apressadas, surgem rápido. É o outono.

Lá no fundo do coração esperava que essa paisagem me inspirasse a escrever textos reflexivos e tranquilos. Tinha assuntos e histórias suaves para contar. Meu caderninho de ideias estava pronto para ser acessado mais uma vez. Não está sendo assim.

Desde o trágico ataque terrorista no dia 7 de outubro, não consigo pensar em outra tema que não seja o sofrimento que a guerra provoca. Foi assim que lembrei dos contos do meu pai sobre a sua participação na II Guerra Mundial, das mortes, das famílias destroçadas e da angústia da minha avó.

Foi também que me veio à mente tantos outros conflitos insanos e desumanos que marcaram, e marcam, a História.

Não sei se você é assim. Eu sempre espero que não ouvirei ou lerei mais nada a respeito de guerras, de gente separada, de dores e perdas irreparáveis por causa de ataques alucinados seja da parte que for. Tenho esse lado que sempre espera algo melhor para todo mundo.

Sou dessas. Trabalho meu dia a dia com a esperança. E, como muita oração. Sei que é o meu lado tolo e pueril que aflora nesses momentos. Quem sabe, por medo. Não sei.

No entanto, ao mesmo tempo, preciso acreditar que esse dia virá. Não quero crer que a crueldade vencerá nem que os loucos insanos vão triunfar. Não, não posso.

Hoje, mais cedo, lembrei da canção de Renato Russo e Flávio Venturini, “Mais uma vez”. Fico com ela.

“Mas é claro que o sol

Vai voltar amanhã

Mais uma vez, eu sei

Escuridão já vi pior

De endoidecer gente sã

Espera que o sol já vem”.