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A alegria de voltar às aulas

Com o retorno às escolas em quase todo o país – foram quase 2 anos sem continuidade presencial por causa da pandemia – fiquei refletindo sobre quanto eu amava voltar às aulas. Sempre era um dia de expectativa e alegria. Acho que ficava esperando por esse dia já quando as férias começavam.

Pode parecer estúpido. Quem não gosta de férias ainda mais criança? Mas, o fato era que meus pais não tinham condições de proporcionar viagens, passeios, atividades e brinquedos novos para que meu irmão e eu pudéssemos aproveitar as férias escolares. Isso não significa que não tenhamos tido uma infância feliz. Só que, no meu caso, se limitava ao quintal da casa de subúrbio no Rio, aos livros e às brincadeiras no fim da tarde com algumas poucas meninas que viviam na mesma rua. Eram poucas mesmo.

A turma da escola não morava nas redondezas da nossa casa. Viviam em bairros mais distantes, o que demandava locomoção. Meu pai não tinha carro, assim, dependíamos do transporte público. Ele trabalhava e voltava já no começo da noite. Não dava mesmo para nos levar a lugar nenhum àquela altura do dia.

Em alguns fins de semana, ainda era possível ir até a casa minha avó, à Quinta da Boa Vista ou ao Jardim Zoológico, todos em São Cristóvão. Eu tentava compreender a situação, mas, confesso que como qualquer criança, queria passar as férias em uma casa de veraneio, na praia ou na serra.  Na volta às aulas, ficava ouvindo as aventuras dos meus amigos de sala. Viajava e tirava férias atrasadas nas palavras e histórias deles.

Ficava querendo adivinhar como seria a tal da lagoa de Saquarema ou a praia do Forte em Cabo Frio, ambas cidades da região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro. Parecia que todos os meus colegas de escola iam sempre para os mesmos lugares. Acho que era moda passar as férias nesses lugares. Só pode ser.

Havia um lado que eu amava também: comprar o material escolar. Mesmo com as dificuldades financeiras, íamos até o centro do Rio, bater perna para encontrar os preços mais baixos. Lembro do dia que ganhei uma caixa de lápis com 24 cores diferentes.  Nem acreditei. Guardei os lápis com todo carinho e evitava usar muito o apontador para que eles durassem mais.

Os cadernos eram os mais simples e mais em conta, claro. Nada que não pudesse ser enfeitado com os carimbos que eu havia ganhado uma vez no meu aniversário. Carimbava todas as páginas e os encapava para durar mais. Fazia o mesmo com os cadernos do meu irmão. Era até uma farra: comprar papel pardo, etiquetas, fita adesiva transparente e espalhar sobre a mesa da cozinha. Era o jeito para proteger e preservar o material escolar, assim como, os poucos livros. Outros livros, pegava na biblioteca da escola.

Quando vejo as crianças na tevê nas lojas de material escolar com os pais, lembro muita dessa fase da minha infância. Nada nem nenhuma dificuldade atrapalhavam a minha alegria na volta às aulas. O caderno poderia não ser o mais bonito; o estojo era o mais simples; não tinha a melhor pasta – era reaproveitada do ano anterior. Mas, meu coração se enchia de felicidade. O mais importante era voltar às aulas, à escola e ao convívio com a turma.