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Sensação de morte ou de espaço sideral

Não foi a primeira vez. E, provavelmente, não será a última. Toda vez que vou fazer uma ressonância magnética tenho a sensação de que deve ser assim que um ser humano encara seus derradeiros momentos em vida: embalado dentro de um túnel.

Estou sem correr há quase um mês por causa de uma pubalgia. Sinto dores na parte inferior do abdômen que irradia para o períneo e para as pernas. Segundo o médico e a fisioterapeuta, elas ocorrem devido à prática esportiva ou ao excesso de algum exercício abdominal.  Disseram que é  comum a jogadores de futebol.

Quanto a mim, devo ter  exagerado ou feito algum movimento errado durante os treinos de corrida. Tem dia que até o caminhar provoca dor e desconforto. Custei a entender o que podia ser. Agora, tudo indica que o diagnóstico está se dirigindo para o sentido sugerido. Para a confirmação, precisei fazer uma ressonância magnética.

Enquanto, a médica me preparava para o exame, voltei a refletir sobre aquele túnel que parece saído de um conto de ficção científica. Ela foi muito atenciosa, me explicou todos os detalhes, colocou os fones nos meus ouvidos e me deu uma campainha que deveria ser acionada caso eu sentisse algo diferente. Foi embora, bateu a porta. E lá fiquei eu, presa a uma maca dentro de uma sala grande de paredes em cores pálidas, luzes frias, debaixo de coberto cinza. Fechei os olhos. Solidão.

Foquei meus pensamentos para a respiração. Assim tenho aprendido nas aulas de Pilates e na “volta à calma” depois de qualquer atividade física, principalmente, as mais intensas. A maca se movimentou. Silêncio.

Logo depois: ping, pong, tic, tac, boing, boing: os sons começaram. Com tons e intervalos diferentes, insistiam em me afastar da concentração. A imagem do espaço sideral e de uma nave do filme “Contatos Imediatos de Terceiro Grau” passaram pela cabeça. Para onde estou indo? O que me espera no fim do túnel? Um extraterrestre? Muito louco.

Um, dois, três…expira! De novo! Desse jeito, fui até o fim do exame.

Deve ser por esta razão que muitas pessoas não conseguem passar pelo exame. A sensação de quase morte, de impotência, de não saber o que está ao fim daquela jornada pode ser muito forte. Acelera o coração, provoca tonturas e suor em excesso, desorienta, aumenta os batimentos cardíacos: a conhecida claustrofobia.

Tenho alguns conhecidos que só conseguem passar por uma ressonância caso o aparelho seja aberto como uma grande roda que gira em torno da parte do corpo a ser examinada. Outra imagem de ficção científica.

Quando ouvi “o exame acabou”, alívio. A maca se mexeu, abri os olhos. Acima da minha linha de visão, havia uma falsa foto de árvores estampada nos vidros das luminárias de teto. Era como se eu estivesse deitada na grama apreciando um céu azul em meio a uma floresta num dia claro de outono.

Sim, estava de volta à Terra e à vida. Era só mesmo uma sensação.

Agora, é esperar o resultado do exame.