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Madonna, Lisboa e eu

Quiseram os anjos que eu estivesse em Lisboa durante a passagem por lá de “The Celebration Tour” que comemora as quatro décadas de carreira da diva do pop. Cito os anjos porque a própria Madonna agradece a eles pelo fato de estar com saúde para enfrentar a super agenda que, por hora, vai até abril 2024 no México.

Pensei bastante o que dizer sobre essa experiência na Altice Arena que fica na beiradinha do rio Tejo e nas vizinhanças do Oceanário. E, claro, com vista para a ponte Vasco da Gama.

Fui com minha sobrinha – que correu atrás dos ingressos – no segundo dia, já que o primeiro havia esgotado. Portanto, não sofri com as duas horas de atraso da primeira noite. Ne terça-feira,7, esperamos uma hora para o início do concerto, como dizem os portugueses. Pensei: “razoável”. Já que estou tão longe de casa, sessenta minutos não significam muita coisa.

Imaginei também contar que nada estava combinado. Meu voo de retorno ao Brasil seria antes da realização do show. Além disso, até chegar na Europa não havia me dado conta da agenda. Esse ano de 2023 tem me trazido tantas questões desafiantes, positivas e negativas, que juro, não parei para pensar nas coincidências de datas.

De nascimento da neta ao lançamento do EP de música eletrônica do meu filho e nora pelo selo inglês Anjunadeep, um dos mais respeitado do setor, e, ainda, passando pela dengue. Nesse caso, com direito à internação do meu marido. Sem esquecer do lançamento do meu primeiro livro, “Um golpe na sorte”. No mais, a grana também era um detalhe importante.

Por outro lado, achei que poderia escrever sobre os shows da Madonna que fui aqui no Rio –  em 1993, “Girlie Show” e “Stick & Sweet” em 2008 , ambos no Maracanã, e “ MDNA” no Parque dos Atletas em 2012. Achei bobeira diante do que estava sentindo no show na capital portuguesa.

Lá pelo meio do show – acho quando ela cantava “Rain” de 1992 – me dei conta que estava diante da história da minha vida também. Aos poucos, fui percebendo quase tudo, que passei, que chorei, que gargalhei, que vivi.

Meu filho tem 40 anos, por exemplo. Como outra mãe, um marco na minha existência. Foi também naquela fase que fui parar na redação de “O Globo” pelas mãos da Regina Martelli e de uma professora da PUC-Rio, já falecida, Flávia Villas-Boas.

Cheguei a ter imagens girando na minha mente de vários momentos dessas quatro décadas. Que viagem! Só não me perdi mais nos meus pensamentos porque dancei e me diverti muito.

O show é um espetáculo. Cenário de telas que sobem e descem a todo instante e telões de led, palco que avança sobre a plateia em formato de “t”, grupo de bailarinos tops,  figurino espetacular, faixas musicais de todas as fases da carreira mixadas com sabores de 2023. E, ela, Madonna sendo Madonna. Irreverente, vibrante, carismática lembrando causas mundiais – como a guerra no Oriente Médio, a homofobia, a depressão, os amigos mortos. Tudo isso aos 65 anos. Lição.

De quebra, na apresentação da icônica “Vogue” de 1990, surge de surpresa na passarela, na qual o palco se transformou, o estilista francês Jean Paul Gaultier. Amigo da superstar desde o tempo em que desenhou o sutiã pontiagudo que usado em 1990, ele estava em Lisboa para o evento “Fashion Freak Show”. No final, uma homenagem a Michael Jackson, que se foi muito cedo desse mundo pop.

Assisti a história da minha vida nos 140 minutos do show. Para não esquecer.

Fotos: Acervo pessoal e Nat Gautreaux