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De frente para aquele mar

Há pouco fui abençoada com imagens de praias de Santa Luzia de Tavira, região do Algarve. Estão em um post de uma amiga brasileira que vive em Portugal há alguns anos. Ela recebeu essa graça – e, porque não dizer, sorte –  de vez por outra pegar o carro, rodar alguns quilômetros e captar filmes e fotos daquela parte do oceano Atlântico. Uma benção.

Passava os posts de cada perfil para cima e para baixo quando me deparei com as águas transparentes em vários tons de azul daquele mar que parece não ter mais fim. Quando me vejo diante desse tipo de imagem, acho que aquele mar não deve levar a lugar nenhum. Interessante. Imagina se os navegantes de outros séculos, como os próprios portugueses, assim pensassem. Não sairiam do lugar. Reforço a ideia de que sou mesmo do tempo em que vivemos. Nada desbravadora.

Nasci no Rio, vivo no Rio, mas não tenho essa mesma impressão dos mares daqui. Quem sabe, seja por causa do lugar para onde me leva a imaginação quando o tema remete a mapas estrangeiros. De frente para aquele mar português, pensaria nos países que ficam distantes dali com o mapa Mundi em mente. O que estaria depois daquela linha do horizonte? Os Estados Unidos? A África? O Brasil? Ou outro reino desconhecido? De tanto pensar, me sentiria mais perdida ainda. Voltaria os olhos para as ondas que movem a espuma nas areias escuras.

O post também me ajudou a lembrar do livro do escritor angolano, José Eduardo Agualusa, “ Os vivos e os outros”. Como o cenário é a bela Ilha de Moçambique, o mar que a envolve é também personagem do intricado romance. Dele surgem e se desenvolvem histórias, eventos e emoções que permeiam os parágrafos em uma mistura de passado, presente e futuro.

Com  essas cenas na cabeça, continuei a refletir. Amo o mar. Ao mesmo tempo, o respeito tanto que não me encorajo a enfrentá-lo ou fazer parte dele. Não sou como o personagem central da trama, Daniel Benchimol. De frente para a sua janela, observa o mar.  “Mergulhou nele vezes sem conta. Conhece as correntes e as marés. Sabe onde repousam as naus, os galeões, os dhows¹ e os pangaios² naufragados. Visitou as praias e as ilhas. Olhou as baleias nos olhos e viu-as partir”.

Sou apenas uma admiradora confessa. Fã que deseja voltar em breve a viver essa emoção de estar de frente para aquele mar e deixar o pensamento passear junto com as gaivotas. Elas têm esse privilégio de ir e vir da terra para o mar, de sobrevoá-lo, de ser parte daquela paisagem. Pensando aqui que da próxima vez, vou me deixar transportar para o corpo de uma delas e apreciar aquele mar mais de perto e do alto.

Redes sociais também podem ajudar a sonhar.

  1. Dhows são um tipo de veleiro comum no oceano Índico e no Mar Mediterrâneo
  2. Pangaios são um tipo de canoa de origem asiática

       Foto: Ana Maria Villaça

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