Dizem que o universo conspira a seu a favor. Não paro muito para refletir como, por quê, pra quê, mas…acho que, certa vez, ele pensou em mim de verdade. Acho que ele sabia que deveria dar um empurrãozinho na minha trajetória.
Pelo título, já dá pra perceber que só posso ser fã da banda irlandesa U2. Fã ardorosa, desde que escutei lá nos idos dos anos 1980, “I will follow” do primeiro álbum “ Boy”. Depois, veio a instigante “ In the name of love” de 1984.
Tudo ainda em vinil. Hoje, acho o máximo esse acesso via redes sociais, streaming, etc. Ah, tudo junto e misturado: enquanto escrevo essas linhas, ouço o U2. Eles me impulsionaram até a conhecer melhor a Irlanda, terra de origem da banda.
Fui colecionando primeiro os vinis, depois as fitas cassetes, depois os Cds. Era comum ter o mesmo álbum no vinil e na fita cassete só pra ouvir no “super anos 1980” walkman. Coisas do século passado.
Quando soube da vinda da banda em 1998, me empolguei demais. A ideia da turnê “Pop Mart Tour” era de fazer um show no Rio, a princípio no Maracanã – acabou sendo no autódromo de Jacarepaguá, na zona oeste da cidade. O fato dessa escolha, aliás, causou muita confusão no trânsito e frustação nos fãs. Os outros dois shows foram em São Paulo no Morumbi.
Quando os ingressos começaram a ser vendidos, corri para um shopping da zona sul do Rio pra comprar. Estava feliz demais. Iria ver ao vivo a banda que sempre amei, que sempre acompanhei. Era indescritível a minha alegria. Nossa, ouvir ao vivo a guitarra do “The Edge”. Sonho se realizando!
Na noite anterior ao show, tive uma crise renal daquelas de ver só passarinhos roxos diante dos olhos. Só quem já teve vai entender o que senti. Mais do que dor no parto. Precisei ser levada às pressas pelo meu marido a uma clínica.
Claro, que, antes de mais nada, foi tratada para diminuir a dor lancinante. Dormi direto. Acordei já no meio da manhã seguinte sem entender bem onde estava. Mal conseguia falar. Quando consegui, ao menos: “nossa, o show é hoje”! E, só!
Óbvio que nunca iria ser liberada pra ir ao show nem mesmo tinha condição de sair da clínica. Não fui. Saí da casa de saúde somente no outro dia com uma medicação grande, recomendação de repouso e olho vivo pra ver se mais pedrinhas sairiam.
Essa não foi a primeira crise renal da minha vida. Mas, dessa vez a dor se uniu à tristeza enorme por não ter ido ao show. Pensei, nunca mais vou ver o U2 ao vivo. Como já disse, tenho uma caixinha de tristezas que me acompanha: essa também foi pra lá.
Dois anos depois, já na TV Globo na coordenação de Relações Públicas e Eventos, nosso diretor me pediu para ir a uma reunião com a equipe do Fantástico. Fui sem saber o motivo. Chegando lá: “Vamos fazer um showcase no Projac para a divulgação do novo álbum do U2”. O álbum em questão era “ All that can’t leave behind”, o décimo da carreira da banda.
Ops! Pensei: o que é isso? O que está acontecendo? Não entendi muito bem, mas perguntei o que se esperava do meu setor, da equipe, de mim. Havia a necessidade de organizador o público, de acertar o que a banda precisaria, como deveria ser o convite, como seria o contato com a gravadora, enfim….Foram muitas reuniões, sempre com a manager do grupo e com a equipe da gravadora no Brasil. Artistas não participam desse tipo de reuniões.
A banda estava de fato desejando apagar a má impressão anterior. Eu, sem saber bem o porquê, estava no meio dessa produção delicada e cheia de pormenores que cercam qualquer grande artista.

No dia da gravação, cheguei cedo aos estúdios Globo, conhecido como Projac, pra ver se tudo estava dentro do que foi combinado com a equipe da banda e como os responsáveis pela revista dominical. Meu celular tocava sem parar. Um monte de gente pedindo convite. Difícil!
Lá pelas tantas, resolvi descer de um andar para outro dos estúdios E/F pelas escadas internas. Quando cheguei ao térreo, lá vem ele: o vocalista Bono. Fui apresentada a ele pela manager. Ele estendeu a mão, sorriu. Agradeceu a oportunidade de estar no Rio de novo.
Eu só pude dizer: Nice to meet you, Mr. Bono. It’s a pleasure to receive all of you at Globo TV Studios in Rio de Janeiro. If you need something, please, call us. Thank you”.
O universo se lembrou de mim de fato.