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Um verão de janelas fechadas

Cinco horas da manhã de um dia qualquer: 22 graus. Dezesseis horas desse mesmo dia 37 graus. À noite, 21 horas: 30 graus. Haverá uma data onde seremos consumidos pelo calor excessivo? Ou afinal de contas, era um sonho?

Pra meu desespero, não! Era mais uma quarta-feira de cão, quente demais, seca, infernal. Uma quarta-feira pra não sair da memória. Como ela, muitos dias seguidos se comportaram da mesma forma. E, nem sei se retornaram.

Sou carioca da gema. Desde criancinha fui aprendendo a lidar com as manhãs e as tardes de sol a pino sobre a minha cabeça a caminho do colégio. E, assim continuo. A gente vai criando mecanismos de defesa para suportar o verão do Rio.

Acontece que estou no sudoeste alemão, onde se esperaria que o verão fosse verão, mas não tão enlouquecedor. Cheguei a ficar com o olhar turvo durante essa tarde. Nenhuma folhinha balançando.

Ando com garrafa de água, boné de aba larga, óculos, protetor solar, roupa de algodão – as de fibras sintéticas me irritam e me esquentam mais ainda – e um guarda-chuva, ou melhor, um “me guarda do sol”.

Nesses dias muitos quentes, a minha idiota solução é entrar nas lojas que têm ar-condicionado; tanto faz ser a Zara, a H&M, a DM (a alemã Drogarie Markt), a Primark ou algum supermercado grande. Sem comprar nada, vou apenas me recompondo pra seguir caminho até meu destino. Isso quando decido não sair.

Acho que os alemães acreditam que ainda vivem em um país somente frio. Não entenderam que as condições climáticas de fato mudaram: nem todas as lojas, prédios comerciais e casas têm ar-condicionado. Na verdade, a maioria não tem. O bom é que a RNV, empresa de transporte público da região do Rhein-Neckar, entendeu. Os trams e ônibus estão com um clima bem fresquinho.

Sempre me impressionei com a quantidade de janelas fechadas, tanto nos prédios como nas casas nessa época do ano. No inverno, sempre é mais fácil entender o motivo de manter tudo fechado. No entanto, no verão, parece que não há ninguém na cidade, que todos fugiram para longínquas praias, rios ou lagos ou que mudaram de país. O visual é de uma cidade fantasma. Custei a entender o motivo.

Nosso verão carioca combina com janelas abertas para permitir que algum ventinho caridoso chegue até nós. Por aqui, é o contrário: janelas fechadas a maior parte do dia exatamente para impedir que o bafo quente entre para dentro de casa.

Agora que entendi a estratégia, deixo as janelas fechadas a maior parte do dia. Um tímido ventilador tenta ajudar, mas nem tanto. Vou aprendendo a conviver com essa condição específica do verão na Alemanha. Só volto a abrir totalmente as janelas lá pelas 21 horas quando o sol finalmente vai se despedindo e a terra começa a esfriar. As madrugadas tendem a ser amenas. Virei mais um fantasminha fugindo do calor.

Terminando esse texto, me achei uma boba. Preciso entender sempre, e cada vez mais, onde estou e que as condições mudam. Daqui a pouco, dentro dessa minha análise tola, quem sabe, vou começar a criticar o outono com seu vento gelado, constante, mas com aquele cenário lindo de folhas nos mais variados tons de vermelho e amarelo. Sim, é a minha vida que segue estação a estação cada uma com suas peculiaridades.