Pensei em enfiar a cabeça dentro da geladeira. Desisti. Ela estava muito cheia das compras da feira. Bebi tanta água gelada como se todas as fontes do mundo fossem acabar. Me senti em uma cena de “ Mad Max”: envolta em um calor inclemente em um deserto ameaçador e na luta por mais água. Reflexo dessas temperaturas em torno dos 40 com sensação térmica passando dos quase 50 graus. Estou indo a caminho da loucura e coexistindo com os abomináveis calores da menopausa.
Já levei um papo sério com esses insuportáveis calores. Sugeri que me deixassem em paz. Eles insistem em não me abandonar. São companheiros há 25 anos quando passei por uma cirurgia que me impediu de fazer reposição hormonal.
Tem horas que não sei o que fazer. Não sei se fico no mesmo lugar, se vou pra debaixo do chuveiro, se como cubos de gelo ou se grito. Só penso nesse calor; suo como se estivesse na academia; tenho dores de cabeça e pressão baixa. É um sol para cada um: morador, turista ou mulheres na menopausa. Divido essas linhas com quem está nessa mesma fase que eu.
Ontem, fui ao supermercado lá pelas sete da noite. Quando cheguei ao caixa, ouvi uma voz ao longe. “Senhora, vai pagar como?” Levei uns bons segundos para responder. Um onda interna misturada ao bafo quente da loja me tiraram do prumo. Eram duas fontes de calor me pressionando ao mesmo tempo. O suor escorria por tudo quanto é pedaço do meu ser, quase desmaiei. Consegui me recuperar e voltar em segurança para casa depois de muita concentração e solidariedade da moça que pareceu compreender o que estava acontecendo.
Sou carioca. No entanto, a cada ano me sinto menos resistente ao verão. Acho que são os anos passando velozmente pela minha vida. Outros diriam que é efeito das mudanças climáticas já em curso há algum tempo. São dias seguidos de sol forte sem aquelas chuvinhas de fim de tarde que desaqueciam a terra, os canteiros, as folhas das árvores, o corpo, as nossas casas. Quando criança adorava tomar banho de chuva. “Vai ficar resfriada, menina”. Era o que eu ouvia ao longe. Nem ligava.
Apesar de tudo, não curto ficar reclamando demais. Dá vontade, mas não me faz bem. Existem outros assuntos mais relevantes para serem comentados. Calor do sol e da menopausa, verão 50 graus vão continuar por aí, entra ano sai ano. Só espero que não piore muito e que eu consiga melhorar minhas estratégias que vão desde usar roupas de algodão – sintéticos aumentam a sensação de calor – até colocar gelo na nuca e na testa passando por ter um difusor com óleo de lavanda por perto.
Esse texto é só mais um desabafo suado. Foi o que a minha mente super aquecida me permitiu escrever. Vou encarar agora um banho de água fria.