Não adianta reclamar, chorar ou fugir. Um dia, o envelhecimento mostra a sua cara. Chega de verdade. Para as mulheres parece que se antecipa quando a menopausa se apresenta.
Descobri que eu era grupo de risco, quer dizer idade acima dos 60, quando começou a pandemia. Quase vinte anos antes, fui abandonada pelos hormônios femininos por causa de uma cirurgia. Já vinha experimentando os sintomas da menopausa há algum tempo e refletindo muito a respeito do envelhecimento no momento em que tomei consciência de pertencer a um novo grupo. Até então, não me dava conta desse detalhe cronológico.
Esse novo período da minha vida foi muito desagradável e infeliz. A depressão veio junto. Aos poucos fui aprendendo a lidar com essa nova condição. A atividade física foi e é minha grande aliada. Quando me lesiono, fico bastante triste porque a musculação, o alongamento e o spinning são os remédios sem contraindicação ou suspeita, como a reposição hormonal que não pude fazer.
Envelhecimento da população brasileira foi o objeto da minha tese de pós-graduação em Sociologia Política e Cultura. Hoje é mais do que positivo e saudável que possámos conversar abertamente sobre a menopausa e o envelhecimento de todos, principalmente, da mulher com leveza e com respeito. Saímos da escuridão.
Por muito tempo me senti perdida e sem fazer como agir. Admito que por vezes me escondia da condição de mulher na menopausa com receio de receber cancelamentos. Durante muitos anos, esse assunto foi abafado. Era sinônimo de derrota, doença, isolamento, afastamento dos círculos sociais e do mercado de trabalho.
Quando minha mãe passou por essa fase tudo era considerado tabu. Lembro do suor sem motivo mesmo nos dias frios, da irritabilidade, do choro a troco de nada, da reclamação da secura da pele e dos cabelos. Me recordo também da chateação com as roupas que não cabiam mais nela. Lembro do esforço que eu fazia para de alguma forma aliviar a tristeza que se abatia sobre ela. Não entendia muito, mas queria ajudar. Minhas tias suavam em bicas na pequena cozinha da casa da minha avó em dias de festas ou de reuniões familiares. Pequena, eu pegava um leque para abaná-las. Agora, sou eu que vivo esse martírio dos calores.
A maior parte do contingente das mulheres brasileiras ainda não tem condição de falar sobre como o envelhecimento impacta nas suas vidas e como alcançar os cuidados e tratamentos mais modernos. Não há, pelo menos, a escuta das dores e angústias. Apesar de sermos, segundo os últimos dados disponíveis do IBGE de 2022, 51,5% do total da população brasileira, há muito a ser debatido e conquistado.
No entanto, o mais importante é ter espaço disponível para essa conversa. Sei que ainda temos um longo caminho a percorrer. Pode ser que nem todos os problemas possam ser amenizados, mas, acredito que já estamos dando um grande passo. Precisamos enxergar que o envelhecimento faz parte da vida de qualquer pessoa, seja mulher ou homem.
Envelhecer é uma questão de toda a humanidade. Faz parte de estar vivo.
A outra alternativa a não envelhecer é a morte. Ou seja, fora de cogitação. É melhor ir compreendendo o que acontece comigo e seguir em frente até que a natureza me diga: “Tá na hora, chega”.