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Refletindo com as abóboras

Já imaginou se uma abóbora caísse sobre a sua cabeça? Seria um desastre. No entanto, isso não é motivo para preocupação. Abóboras são vegetais rasteiros como as cenouras, as beterrabas. A Natureza sabe o que faz.

Se bem que anda muito machucada. Incêndios, descaso, ocupações sem controle, mal uso do solo, enfim, uma sorte de questões que estão colocando sua sabedoria em risco. Tenho certeza que vai se ajeitar a despeito do que façam com ela. Nós é que podemos ter a nossa existência no planeta ameaçada.

Como é magnânima, entende o lugar de cada estação do ano, de cada nascer do sol, de cada ser vivo. Conhece a nossa trajetória e nos guia para um ponto de excelência interna e de felicidade.

Acredito que nos afastemos dessa dinâmica natural quando nos perdemos em pensamentos e atitudes egoístas.  Ou quando, tentamos nos espelhar no outro. É como se nosso ser individual procurasse um espaço que não tem nada a ver com a nossa verdadeira essência. Quando não nos encontramos, sofremos. Nos estressamos. Adoecemos.

Tenho procurado, na medida do que minha compreensão permite, meditar a respeito desse tema: o que a Natureza quer de mim? Por qual motivo, me colocou por aqui? Por que nasci no Rio filha de um casamento interracial?

Por vezes, me vejo de novo como a menina curiosa e faladeira naquela fase dos “por quês? Imagino o que meus pais passaram para lidar com a minha capacidade infinita de fazer perguntas.

Não cheguei, pelo menos, até agora a uma resposta. Vivo em busca dela. Talvez só a encontre quando chegar o dia da partida desse mundo físico.

Percebo – hoje em dia sem a angústia da juventude – que quanto mais simples e naturais forem meus argumentos para continuar a caminhada da vida, melhor me sinto. Tento me afastar daquilo que não me diz respeito ou que um dia achei que seria bom pra mim.

Se houver, e houve, pedregulhos na estrada sei que tenho os meios de ultrapassá-los e seguir em frente. Nada é melhor ou pior. É somente aquilo que ainda não aprendi e que, pela falta de amadurecimento, posso um dia ter idealizado. Não procuro reformar a vida como ela se apresenta. Procuro entendê-la.

Durante a fase de menina cheia de perguntas, li um conto bobo que lembro até hoje. Acho que estava no primeiro ou segundo ano do atual ensino básico. Era mais ou menos assim:

“João trabalhava em uma fazenda. Tinha muitas dúvidas a respeito das plantas. Vivia reclamando até da quantidade de água diferente que cada uma precisava. Achava um absurdo que a abóbora se desenvolvesse em uma grana rasteirinha. Um vegetal enorme não tinha folhas grandes, tronco ou galhos.

Todos os dias após o almoço, João se deitava sobre a sombra de uma jabuticabeira. Certa tarde, acordou porque uma frutinha havia caído sobre a sua testa. Desnorteado, a imagem de uma abóbora apareceu imediatamente nos seus pensamentos”.