Vento, longa praia com tonalidades acinzentadas. Andei quase 10 minutos enterrando os pés na areia dura desviando das conchinhas quebradas que a maré alta da noite trouxe.
Enfim, as águas do Mar do Norte. Não tão frias como eu imaginava: a temperatura parece com a das praias de Florianópolis, ao menos, para uma manhã de verão com 15 graus.
Estou na cidade-ilha de Juist que faz parte da Baixa Saxônia, um dos 16 estados da Alemanha. Está no noroeste do país acima da Holanda e um pouquinho abaixo da Dinamarca. É uma das ilhas Frísias. Um cenário de casas baixas de paredes e telhados cor de tijolo, janelas brancas e muitas flores nas sacadas e nos jardins, principalmente, hortênsias de muitas tonalidades diferentes.
Vim parar aqui por acaso. Como já disse, um pedaço da família vive na Alemanha e tinha compromissos de trabalho em Juist. Percorremos quase 650 km de Mannheim, no sudoeste da Alemanha, até chegar ao porto da vila de Nordeich. Depois, mais uma hora e meia em um imenso barco até Juist. Somos os únicos latino-americanos na ilha que têm uma população local em torno de 1500 habitantes.
Não há carros nem motos na ilha, somente muitas bicicletas e charretes. Silêncio interrompido pelos cavalos que puxam um mini trem que transporta pessoas, bagagens, produtos e até o lixo. As bolsas e malas que não podem estar nesse meio de transporte são colocadas em carrinhos puxados por bicicletas ou pelos próprios hóspedes.
Sempre tive um certo encantamento com o Mar do Norte e com essa rispidez de suas águas escuras e frias. Acho que por essa razão topei esse programa de cara. Ainda mais contando que estamos no verão. Fiquei pensando como deve ser no inverno.
Minha imaginação já me levou a pensar nos vikings e nos navegadores que desbravaram essa parte do mundo. Várias vezes, me peguei pensando como seria viver nessa parte do planeta tão longe da minha realidade brasileira.
Sentada à beira da praia, me peguei refletindo o que uma carioca de sangue dominicano poderia estar fazendo nessa terra tão longe do seu habitat. Devo dizer que me senti muito bem. Apesar das minhas origens latinas, gosto do não barulho, de ouvir o vento que sacode as folhas e move a areia. Curto o som das gaivotas que cantam para acordar e para dormir. Aliás, minhas noites foram ótimas: ruído zero.
Somente de sábado para domingo um bêbado berrou em alemão por quinze minutos no apartamento ao lado da nossa pousada. Disse muitos “nein” – não em alemão. Acabou sendo contido por um amigo. Muita cerveja, vinho e Aperol deu nisso.
Voltei a cair no sono profundo. Noites tranquilas em uma ilha longínqua do Mar do Norte foi o que mais curti além da beleza ímpar do lugar. Ich liebe Juist!