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Nada melhor do que escrever

O que dizer de um coração partido? O que dizer quando a gente sente que um pedaço se desprende e com ele parece que sua vida leva um tombo? Não dá pra saber muito bem até que acontece.

Nesse domingo, se foi o jornalista, escritor e dramaturgo Artur Xexéo. Minha vida passou diante dos meus olhos naquele modo acelerado de filme. Nada melhor que do escrever pra lembrar dele com carinho e agradecimento. Ele foi meu editor na revista Domingo do JB.

Cheguei em 1985 à redação da revista Domingo do Jornal do Brasil a convite da chefe e amiga Regina Martelli. Entrei pé ante pé naquele prédio enorme da avenida Brasil, 500, no bairro do Caju, Rio de Janeiro. Hoje, é o Instituto de Traumatologia e Ortopedia.

O pé direito da recepção era enorme. Parecia que dava mais de 10 “guigas” em altura. O elevador de aço era grande também. Muito vidro e aço na decoração. Olha só que aflição eu passei: entrar no famoso jornal e dar de cara com um monte de jornalistas conhecidos e os quais eu lia sempre. Foi um teste para esse mesmo coração que hoje está bem doído.

Naquela época, a revista Domingo já ia se transformando num veículo de peso na cidade. Vivíamos tempos de efervescência da cultura, da música, da moda, da política no país. Quando cheguei no JB, Tancredo Neves já havia falecido e o presidente era José Sarney.

Lembro que Xexéo ficava num canto da sala do sexto andar. Eu ficava pensando como abordar temas de moda com um cara tão importante, culto, um grande jornalista, que já havia passado pela revista Veja, etc, etc. Mas, era dever de produtora: perceber o que a rua falava e usava, fazer a sugestão de pauta para a editora da área, Regina Martelli, e depois para o editor-chefe, Xexéo. Com seu humor, às vezes até mal humorado, ele fazia perguntas, queria entender, mais. Bem, a gente consegui emplacar as sugestões de pauta, temas, para as nossas matérias.

Hoje, com sua partida antecipada, muitas dessas conversas voltaram à minha mente. Muito voltou também do que aprendi naquela fase da minha vida, dos acertos que ele fazia nos textos e legendas das matérias. Lembrei das noites de sexta-feira, o chamado “ pescoção”, quando eu ficava até a madrugada à espera da primeira prova da revista pra saber se estava tudo conforme nós havíamos planejado. Ligava para o meu marido quando ia sair da redação do jornal. Ele ficava me esperando na porta do prédio.

Outra memória que voltou foi a sessão de fotos com os geniais fotógrafos que trabalhavam para o JB, os artistas que a gente entrevistava, os desfiles de moda dos quais éramos convidadas. Lembrei, principalmente, dos amigos que fiz. Lembrei do jeito, quase carrancudo, mas amoroso com o qual ele me recebeu.

Se minhas palavras servem para algo: obrigada, Xexéo. Achei melhor escrever. Meu coração vai se refazendo com outras palavras que são suas à época do aniversário de 90 anos do Zuenir Ventura: “Algumas pessoas têm a sorte de conhecer pessoas que mudam a nossa vida”. Eu tive.