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Na vida, as coisas vão e voltam

Andei lendo por aí que o Titanic vai ser ressuscitado*. É isso mesmo. E tenha certeza não vai ser para outro filme de James Cameron tal qual o megassucesso de 1997.

Um multimilionário da Austrália anunciou, em uma coletiva de imprensa em março, que vai reconstruir o navio que afundou em 1912 e levou junto 1500 pessoas. O transatlântico com capacidade para 2345 pessoas deve ser lançado ao mar em junho de 2027 ainda sem rota inicial definida.

Em uma época em que outros milionários estão programando voos com passageiros ao espaço e à Lua, por que reconstruir o Titanic? Mais um projeto de negócios, diriam alguns. Um sonho de juventude, como anunciou o tal australiano. Ou nenhuma boa e diferente ideia para ser lançada, selariam os inovadores.

Quem teria a coragem de embarcar em um navio com um nome de triste história?

A cabeça das pessoas é tão cheia de surpresas que provavelmente impactadas com as cenas do filme, acho que muitos embarcariam nesse novo Titanic. Quem sabe, imaginando que iriam encontrar Leonardo di Caprio e Kate Winslet e ouvir Céline Dion cantando “My heart will go on”. Não seria uma má ideia convidá-los para a primeira viagem. Quem sabe, talvez esteja nos planos ambiciosos como uma ação de marketing.

Essa notícia me levou a pensar como as coisas na vida e no mundo vão e voltam. Quando a gente menos espera produtos, objetos ou formas retornam. Fantasmas do passado também. É preciso ficar de olho vivo para não cair em ciladas e reviver traumas, erros, encontros desagradáveis.

Esse fenômeno do vai-e-volta sempre esteve presente na Moda. Faz parte da sua essência vez por outra ressuscitar estilos, cores e modelos. Dizem os especialistas que esse ciclo é de em torno 20 anos.

Nesses últimos meses, ao menos, nas passarelas internacionais muitas propostas ressurgiram. A calça de cintura mais baixa, o estilo cowboy – Beyoncé ajudou com seu novo álbum – as sobrancelhas menos grossas, a saia balonê, o couro – mesmo em tempos de incentivo ao uso de materiais sustentáveis e que não sejam de origem animal.

Na indústria automobilística, os chineses ressuscitaram o Fusca. O carro saiu de linha no Brasil em 1986. Voltou a ser fabricado em 1993 e oferecido até 1996.  O novo modelo é maior, mais largo e tem motor elétrico, mas o fabricante da China garante que não é o Fusca. Basta ver as fotos para checar que é um clone do famoso carro.

Li que o lindinho IPod, tocador de músicas da Apple lançado em 2007,  também está de retorno. É um item de valor para quem anda fugindo dos dispositivos hiper conectados que acessam a internet, tocam músicas, fazem chamadas de vídeos, tiram fotos, têm IA.

Essa turma está em busca da simplicidade dos devices que fazem uma coisa apenas, mas muito bem. O IPod  vem alcançando cifras altas no mercado vintage já que a Apple não cogita um novo lançamento. Lembro que ganhei um rosa pink em uma promoção da operadora de celular. Era uma grande novidade. Com o passar do tempo, não consegui mais recarregar a bateria: ele se cansou. Nostalgia à parte, foi excelente enquanto durou.

O tal magnata australiano pode estar apostando com o mercado. Ele já anunciou a volta do Titanic aos mares há alguns anos e não a concretizou. Como está na matéria que li, alguns jornalistas acreditam que a história irá se repetir. Pensam que é outra jogada para promover sua linha de cruzeiros, a Blue Line Star. A ver.

Pelo meu lado, procuro ser mais pragmática e ir, como sempre digo, em frente. Nem o meu lindo e querido Fusca verde folha gostaria de ter de novo. De sênior já basto eu.

*Matéria do jornal “El País” de maio de 2024