Quem disse que saudade não é um sentimento com o qual aprendemos a conviver?
Para mim faz sentido. Ou melhor, precisa fazer. Do contrário, murcho como o girassol quando a luz do dia se vai, quando minha família retorna para os seus lares fora do país. Me imaginar como um girassol, ajuda a perceber que assim devo agir para não me acabar de vez. Amanhã sempre será outro dia.
Preciso compreender como meu coração deve dar conta do buraco que fica quando a saudade bate. Mesmo que seja sobre um evento já aguardado, ela se instala e deixa rastros pelo meu corpo.
Meu filho, nora e neta vivem na Alemanha. Enquanto estão no Brasil, experimento uma fase aconchegante e feliz. No entanto, mesmo sabendo que depois das férias brasileiras o retorno vai acontecer, me entristeço. A alegria taxia na pista do aeroporto, voa junto com o Airbus 380, alcança as nuvens e atravessa o oceano que nos separa. Meu dia a dia exige força para compreender essa característica da minha vida.
Acho que assimilei essa dinâmica de dentro da casa dos meus pais. Como vivíamos longe da família materna, fomos coexistindo com a saudade e com a expectativa de um dia encontrar nossos parentes queridos. Me desesperava com as lágrimas da minha mãe em relação à distância da minha avó, de seus irmãos, tios e sobrinhos que moravam em uma ilha no meio do Mar do Caribe. Demorei muito a entender o que acontecia com ela quando as cartas não chegavam. Ela esperava o carteiro no portão de casa no horário de sempre. Meu irmão e eu já sabíamos que não havia carta pelo olhar decepcionado e marejado.
Hoje, sei bem o que é. Procuro refletir sobre as vezes nas quais vivi situações semelhantes. Isso me ajuda. Não apaga a saudade, mas dá ânimo e certeza de que mais uma vez estou aprendendo. A espera do reencontro não vai durar para sempre. Um dia, vamos nos ver de novo. A presença de cada pessoa, de cada evento, de cada riso ou abraço que me fizeram feliz já são reconfortantes como um cobertor macio em noite fria.
A gente só tem saudade do que amamos, do que é bom e nos traz felicidade.
O WhatsApp encurta a chegada de notícias. Fotos de dentro do avião e do aeroporto também alegram a alma. Lágrimas podem até rolar. No entanto, o fato de saber que tudo correu bem, já faz meu dia melhor.
O girassol ama o dia. Tem a sua esperança renovada diariamente até morrer. Está na sua natureza. Sabe que o sol vai nascer de novo na manhã seguinte. Assim procuro ser.
