Categorias:

Envelhecer é um teste

Dizem que poderia ser diferente, que tudo seria um “mar de rosas” sem espinhos, claro. Ou que eu deveria entender meu tempo e aceitar que ele está passando.

Não. Não é assim. Envelhecer é um teste diário de paciência, resiliência e aceitação.

Tenho visto alguns posts, matérias e conversas que insistem em romantizar o envelhecimento. Isso não ajuda em nada. Pelo contrário, me afasta da compreensão desse momento da vida. Minha tese de pós-graduação em Sociologia Política e Cultura foi sobre o envelhecimento da população brasileira. Lá pela metade dos anos 2000, já vinha refletindo sobre o tema.

Essa crônica surgiu por conta das entrevistas de duas atrizes, Renata Sorrah ao Estadão e Paula Burlamaqui ao GNT. Li e ouvi mais de uma vez o que ambas relataram sobre o assunto. Não pude deixar de concordar sobre o que disseram. “É uma merda”, como a Paula pontuou há algum meses.

A gente envelhece porque está viva. Eu sei. A outra opção, a morte, não é uma escolha que desejo.

Mas, isso não significa que o dia a dia não seja de luta para dar conta dos anos que vão se esvaindo. Me parece que com mais rapidez do que nunca. É uma sensação estranha.

Como ambas as entrevistadas comentaram, acho que a saúde, o bem estar, o sono longo e a falta de oportunidades de trabalho são itens que influenciam demais nessa visão crítica do envelhecimento.

Sempre fui muita ativa. Pratiquei balé, natação, spinning e vários tipos de dança. Atualmente, mantenho a atividade física cada vez mais presente na minha rotina. No entanto, venho percebendo que não tenho mais tanto ânimo para participar de todas as atividades ou esportes que gostaria de fazer.

Há alguns anos, incorporei os treinos de força com peso do corpo, elásticos e aparelhos para me sentir melhor. Me ajuda muito, inclusive,  para lidar com as dores que surgem certas manhãs. Uma hora foi a fascite plantar. Em outra, a pubalgia. Em mais outra, a condromalácia patelar no joelho esquerdo. O esqueleto está reclamando.

O nascimento da minha neta em 2023 me chamou mais atenção sobre a urgência do meu tempo. Há alguns meses ela nem andava. Agora, não só anda, como corre; sobe os cinco andares do prédio onde mora; come sozinha – apesar da bagunça que resta após qualquer refeição; fala meu nome; reconhece a porta azul do seu edifício; sabe que morango é morango, que uva é uva, entre outras frutas. E só tem 1 ano e 5 meses.

Ensinei a subir na meia ponta. No dia seguinte, me puxou pela mão, ligou um pianinho cor de rosa e ficou brincando de fazer o mesmo movimento com os pés. Além disso, consegue entender a diferença de palavras em português e alemão.

Tudo tão ligeiro e até voraz. Me assustei mais uma vez. Se o tempo passa para ela, para mim voa a jato. E com ele se vai o colágeno, a tranquilidade do sono, a força das pernas, a retenção do xixi. Os quilinhos teimosos ficam. Difíceis.

Ao fim e ao cabo, acho que devo parar por aqui mesmo. Não quero ser chata nem impaciente comigo mesma. Preciso lembrar sempre da lição do girassol que se recolhe à noite e na manhã seguinte procura o sol. Amanhã, será um dia mais ensolarado, repleto de ideias que me ajudem a encarar o tempo veloz e o envelhecimento. Preciso passar no teste.