A cada dia, uma novidade, nem sempre agradável. Fico imaginando qual a será a próxima. Esse caminho do envelhecimento e da pós-menopausa tem dessas coisas.
Fico no meu cantinho mental percebendo o movimento ao redor sem levar em conta as horas, os dias, os anos que passam. No salto de segundos, caio na real sobre a minha idade biológica. Foi assim na pandemia, no nascimento da minha neta. Procurei não dar atenção. No segundo caso, foi uma benção: Nina é tudo de bom. No entanto, algumas vezes, me assusto.
Já me choquei com os quilos a mais que insistem em ser meus companheiros. Repito: não quero esse tipo de companhia. Sei que não terei mais a silhueta dos tempos em que praticava balé. Só acho que não precisa ser assim tão diferente. Eles poderiam ser em menor quantidade. Estou na busca de como largar alguns desses amigos indesejáveis pelo caminho.
Cabelos brancos tenho desde os 30 anos. Característica da família paterna. Meu filho com a mesma idade já os tinha. Minha sobrinha começou a conviver com eles aos 20 anos. Enfim, parte do jogo genético.
Falta de sono me irrita. Quanto mais irritada, menos o encontro. Não curto remédios para dormir. Tomei uma vez por orientação médica e achei péssimo. Passei o dia seguinte como um personagem do seriado “The Walking Dead”. Foi tão ruim que não consegui nem me alimentar nem trabalhar. Tenho a atividade física e as caminhadas como aliadas. Me garantem sono reparador e mais equilíbrio.
Com o passar dos anos, o sexo também se modifica. Preciso superar mais essa novidade que vem com o avançar da idade. Cada dia é um dia. Já que estou viva, necessito aceitar as novas regras e continuar. Uma pessoa al lado compreensiva e ciente de que os anos passam para todos é fundamental. Aliás, a outra opção à vida, ou seja, a morte é pior e fora de cogitação.
Nessa estrada do envelhecimento, certa vez, não consegui colocar a linha em uma agulha. Precisava costurar um botão em uma camisa branca. Foi um tormento. Para começar, achei que meus óculos não prestavam mais. Fiquei puta da vida. “Será que terei que levar a minha camisa em uma loja de consertos apenas pra colocar de volta um botão?”
Nada me chateou mais naquele dia. Troquei de agulha. Troquei o carretel. Cortei as pontinhas da linha. A amolação foi tamanha que deixei cair no chão a caixinha onde guardo botões, linhas, alfinetes. Coisa de quem um dia foi figurinista e produtora de moda e mantem todo esse tipo de apetrecho em um só lugar. Lá, também tem fitas, argolinhas, colchetes, fita crepe, tesouras, botões. Tudo ficou espalhado pelo chão. Tom, nosso “salsicha”, se assustou com o barulho da queda e latiu muito. Fiquei mais indignada ainda.
Não me rendi ao buraco da agulha. Virou um desafio vencê-lo. Enfim, nada como uma lupa para me ajudar nessa tarefa.
Claro, que mais uma vez percebi que a realidade sempre se impõe. Ou seja, outra descoberta super sem graça desses tempos que passam e eu nem sempre me dou conta deles.
Escrevendo sobre esse episódio, cheguei à conclusão de que foi muito barulho por nada. Melhor trocar as lentes dos óculos. Viva la vida!