A cada nova imagem da invasão dos prédios dos três poderes em Brasília fico mais estarrecida. Como já escrevi, é difícil aceitar e entender que brasileiros e brasileiras como eu possam ter agido de forma tão violenta e radical. Protestar é do jogo democrático. Depredar, quebrar, roubar é outra coisa. É vandalismo.

Muitos anos atrás, fiz parte de um grupo que estudava o Tarô de Marselha. Considerado um dos mais antigos do mundo, remonta ao século 15. Fiz amigos queridos que até hoje se mantem nas minhas redes. Outros se perderam com a passagem do tempo. Estou afastada desse campo há muito tempo. No entanto, dos papos e encontros, ficaram algumas leituras, principalmente, a dos números.
Não quero aqui fazer nenhum julgamento ou avaliação política ou de responsabilidades a respeito de tudo o que aconteceu em Brasília. Não me sinto competente nem com permissão para tanto. Como disse, alguns detalhes da fase das conversas sobre o Tarô ficaram no meu pensamento.
A soma da data do fatídico domingo na capital brasileira, 0+8+01+2+0+2+3, é 16 e na raiz 7 (1+6). Dezesseis é o número da carta “A Torre” dos Arcanos Maiores – que são vinte e dois no total. (Há ainda os Arcanos Menores que totalizam 78 divididos nos 4 naipes, ouro, espada, paus e copas).
Sua representação figurativa é literalmente de uma torre de tijolos que se desfaz a partir do topo. Na imagem, ainda há duas figuras de ponta cabeça que parecem ter caído do alto. Em outros tipos de baralho de Tarô, o desenho difere um pouco, tanto no formato da construção, como nas cores e nas figuras que caem.

Essa carta pode ser associada à Torre de Babel. Segundo o mito bíblico (Gênesis 11: 1-9), foi construída na intenção de permitir que o ser humano alcançasse Deus. Como não havia permissão para tanto, Ele a destruiu. Além disso, teria criado vários e diferentes idiomas, o que provocou muito desentendimento para a humanidade que não conseguia se comunicar.
Em termos simbólicos – sem um exame mais detalhado -, poderia ser interpretada como um acontecimento catastrófico inesperado. No entanto, outras pessoas que se dedicam ao tema acreditam que também é uma oportunidade otimista de reconstrução de algo que já não servia mais. Essa leitura entende o surgimento da “Torre” no jogo como o começo da solução de um problema. Ou seja, depois da destruição, viria a consciência e a restauração.

A carta de número 7 é “ O Carro” . A figura é de uma carruagem guiada por um rei ou imperador com dois cavalos, um preto e um branco. Simbolicamente, tem a ver com controle, ação, esforço e confiança para seguir em uma nova estrada que surge de uma encruzilhada. É como se cada cavalo fosse para uma direção. Cabe ao condutor tomar a decisão do melhor caminho e cuidar para não ser rígido quanto à sua escolha e às ideias ultrapassadas.
Tudo o que descrevi acima surgiu de forma repentina na minha mente diante dos muitos vídeos sobre o ataque, principalmente, às obras de arte, ao patrimônio de todos nós e àqueles que lutaram para defender os espaços públicos. As cenas lembram batalhas de cenas de filmes. Poucos policiais no enfrentamento à turba ensandecida. Inacreditável.
Não há nessas linhas nenhuma opinião ideológica, política ou partidária. É bom repetir para não restar nenhuma dúvida ou aresta. São apenas uma das maneiras de enxergar o evento trágico do dia 8 de janeiro através das minhas lembranças dos bate-papos sobre o Tarô de Marselha.