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Água sanitária ou alvejante em pó?

O ser humano não se cansa de falar. Fala-se nas redes sociais – com a vantagem do anonimato e uma distância providencial da audiência -, nos aplicativos de conversas, nos transportes públicos, nas ruas.

Sei que pode parecer estranho, mas sou fã desses papos em momentos de espera forçada também em aeroporto, padaria, farmácia, quer dizer, em filas. Acho desagradável por um lado. No entanto, já escutei sobre tantos assuntos que chego a me espantar. Já me diverti muito com a capacidade do ser humano de falar em público sem saber quem pode ou não ouvir as conversas individuais. Acho que as pessoas entediadas falam muito e inventam até situações que não viveram. Os brasileiros são criativos e gostam de plateia.

É verdade que há diferenças. No momento no qual escrevo essas linhas, estou em Mannheim, sudoeste alemão. Aqui, essa dinâmica é reservada às ligeiras intervenções com as crianças, principalmente, se ainda estão nos carrinhos. Até os objetivos e ultra rápidos caixas dos supermercados se detêm para jogar algumas palavrinhas para os bebês. É uma rara chance para abrir um espaço curto de troca de palavras nem que seja para um “schön tag”.

Já pensei até em escrever um livro sobre o que já ouvi por aí. Para começar, aqui vai uma boa história, claro, no Rio. Escutei na fila de um grande supermercado da Barra da Tijuca, daqueles enormes em que a gente perde de vista os números das caixas e que anunciam ofertas no autofalante a todo instante.

O papo era sobre o melhor sabão para roupas coloridas, melhor amaciante – ops, será bom mesmo continuar usando amaciante?  Me vi no meio de duas mulheres que extrapolaram a convivência pacífica e necessária ao espaço. Cada uma tinha uma ideia bem formada sobre o melhor detergente, comprar ou não sabão em barra, o melhor produto para deixar o banheiro cheiroso mesmo depois que um adolescente precisa fazer o número dois, e muito mais.

Pensei que o melhor seria ir para o fim da fila. A curiosidade, no entanto, foi maior. Me mantive no lugar à espera do que poderia estar por vir.

De repente, as duas começaram a conversar com mais objetividade e concordância a respeito de um determinado produto. O papo começou a ficar mais interessante. Nesse caso, fiquei de ouvidos bem abertos.

― Nilda, pra quê tanto Vanish? É caro pra caramba! Não está em oferta.

― Célia, só isso aí tira as manchas das cuecas do Gilson!!

― Nossa mãe!! Não me diga que você faz isso! Que horror, Nilda. Você lava as cuecas dele?

― Ahhhh, só assim sei se aquele cachorro foi ver a Suellen, aquela maquiadora da rua detrás, a que só anda com batom rosa. Depois que ele sabe que sei de tudo, que sei que eles estiveram juntos, posso pedir o que quiser. Ele abre a carteira rapidinho. Mais tarde vou no shopping comprar um vestido. Outra coisa, quem lava é a máquina. Eu só fico vendo.

É ou não é um prato cheio para quem curte escrever? A vida e suas histórias.