O outono frio e chuvoso chegou junto comigo à Copenhagen. Soube que na semana anterior, o sol havia brilhado e feito até calor, 15 graus. Só conhecia o país através dos contos de Hans Christian Andersen e da seleção masculina de futebol. Na solidão de turista, paguei muitos micos já que percorri sozinha a cidade e cercanias, meu filho e nora tinham compromissos de trabalho.
Curto viajar; conhecer gente diferente, lavar minha alma da mesmice; ter a certeza de que sou apenas um minúsculo ser; conhecer novas culturas. Aprender. Portanto fui em frente. O idioma dinamarquês, por exemplo, tem muita consoante junta e ainda, por cima, tem muitos tracinhos diferentes em uma só palavra, como acentos, em cima das letras. Um tracinho fora do lugar e tudo muda.
Minha companhia foi o Google Maps. O povo fala inglês mesmo que sejam apenas poucas palavras. Foi assim que consegui me comunicar com motoristas dos ônibus que, no entanto, não gostam de ser guias de turismo. Entendo. Hoje, com certeza, teria um tradutor ou serviço digital. Me pouparia dos perrengues.
Certo dia, com céu nublado e chuvinha gelada, decidi conhecer um dos pontos turísticos do país. Peguei um ônibus perto de casa até a estação central nos arredores de um bairro fashion chamado Vesterbo. Apliquei meu método idiota: achar a loja da Zara no mapa. É sempre um ponto de partida para encontrar o que eu preciso, no caso o local de onde partiria o meu trem urbano.
Depois de uma viagem curta, desembarquei na estação de Osterport Street, sempre guiada pela voz do Google Maps. Quando cheguei, não sabia para que lado andar em meio àquele monte de bicicletas que saem e entram dos trens como se estivessem nas pistas de corrida. A voz me enrolou. Disse que era para atravessar a rua logo em frente à estação, um fantástico prédio de 1897. Caminhei muito até descobrir que não deveria ter atravessado a tal rua. Deveria, sim, seguir pela mesma calçada da estação e virar à esquerda.
Ventava. Algumas folhas avermelhadas carimbavam o meu caminho. Andei bastante até que cheguei a um parque também nos tons de vermelho e amarelo dourado. Sozinha, continuei obedecendo as orientações da minha amiga de viagem. Às vezes, “refazendo a rota”. Entrei em uma igreja de tijolinhos pra pensar: se nem ela sabe aonde ir, estou fudida. Saí e continuei cumprindo suas ordens.
Senti que as lufadas do vento frio traziam notas de maresia. Resolvi seguir a direção de onde ele vinha já o que eu procurava estava perto do mar. Abandonei a voz. De fato, me rebelei com sua indecisão. Pensei se não encontrar o que quero, pelo menos, vou conhecer parte da costa dinamarquesa e os navios que por ali aportam. “Refazendo a rota”, ouvi de novo. Obedeci. Vai que ela havia resolvido ser mais eficiente.
Quando cheguei ao destino apontado pela voz, virei para um lado, para o outro. E, nada. Ops, ela errou de novo. Chateada, xinguei muito a tecnologia e a minha insensatez de seguir os comandos dela.
Me aproximei do mar. E aí encontrei o que procurava: a estátua da famosa “Pequena Sereia”, um ícone da Dinamarca. Levei um susto: ela é muito pequena. Decepcionante. Tem 1,25 de altura. Esperava uma estátua poderosa que fizesse jus a tanto comentário, desenhos animados e livros desde 1913. Perto dela me achei enorme.
O vento aumentou muito; a paisagem foi ficando cada vez mais cinza escuro; as águas do porto foram se encrespando e respingando em cima de mim. Antes que até o meu pensamento congelasse, voltei rápido no sentido da estação. Tracei uma linha reta na saída do parque e fui. E, aí, veio a segunda decepção: descobri que o trajeto poderia ter sido feito em 10 minutos. A voz havia me induzido a andar 50 minutos e em círculos.