Para o meu alívio, o outono chegou e fica até 20 de junho aqui pelo hemisfério sul. Esperei essa chegada com toda a força do meu ser e da minha mente. Nas primeiras e poucas gotas de chuva que caíram já me senti abençoada e feliz.
Amo as estações intermediárias. E, mais ainda o outono. Com ele, os calores teimosos e irritantes da pós-menopausa são melhor administrados e meus treinos mais controláveis. Quem sabe, consigo voltar a frequentar a praia – nesse período fica mais vazia.
Nada acontece na natureza de uma hora para outra. Vai acontecendo. O outono, por sua carecterística, vem chegando de mansinho. Há dias nublados, outros com chuva leve, alguns secos e outros com os conhecidos 30 graus do verão carioca. Como sei que é assim mesmo, não me aborreço e aguardo com esperança os dias sem evaporação e com temperaturas amenas.
A atmosfera mais tranquila me abraça; o céu azul claro é um convite para caminhar mais pelas ruas; o sol agradável é um aviso de força inspiradora e criativa. Se o período outonal é uma pausa para a natureza, é para mim também. O ímpeto acalorado do verão dá lugar à reflexão interna. Me volto para dentro de mim sem receio de estar perdendo algo lá fora. Nada parece urgente.
Nasci e vivi em um subúrbio do Rio. Deveria estar habituada ao calor. Quando saí de lá, meus pais ainda não tinham condição de instalar um ar-condicionado, ao menos, no quarto de dormir. Aliás, motivo de muita discórdia entre eles. Os fogachos e as noites mal dormidas transformaram o bom humor e a alegria da minha mãe. Ela ficou irreconhecível. Hoje, bem sei o que é. Tento me lembrar dessa passagem para compreender o que é essa fase pela qual todas as mulheres passam. Gostaria de ter podido ajudá-la. Atualmente, falamos mais sobre o tema, há mais pesquisas, medicamentos e pessoas interessadas. Deixou de ser uma tabu.
Apesar do que aprendi e me habituei com a minha infância e adolescência suburbanas, os últimos verões têm sido terríveis. “….não tem outro dono aquele sol, aquilo não era de deus, era um sol que ficava fumando a gente o dia inteiro; velho, criança, não fazia diferença”, trecho do conto “Maria Aparecida Silva (dos Santos)” do livro “Carne Marcada” de Cássio Goné. Isso mesmo. Durante esse verão insandecido parecia que minha cabeça queimava e expelia fumaça.
Sei que a idade e a pós-menopausa são parte importantíssima de tudo o que passo. No entanto, não posso deixar de apontar a responsabilidade dos muitos eventos climáticos reunidos, que ora esfriam demais algumas partes do mundo ora aquecem demais outras delas – chuvas torrenciais acabam desabando e deixando um rastro de destruição e perdas.
Li que esse último verão foi um dos mais intensos dos últimos anos. De certa forma, até me acalmei, melhor, me conformei. Não fui a única a sofrer tanto com o calorão carioca. Conheci muita gente que padeceu, reclamou e o xingou de tudo quanto é nome.
Torço do fundo do coração que não precise andar mais com tantas toalhinhas, lenços de papel e leques a partir da chegada do outono. O excesso de suor me desgasta, me tira do prumo.
Querido outono, me ajude a ser uma mulher melhor, mais calma, paciente e com pressão arterial sob controle. Não me decepcione. Conto com você.