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Por uma roda gigante

 A vida é feita de pedacinhos e de idas-e-vindas. Não sabemos o que vem a seguir de um dia de sol, de uma lágrima, de uma festa. Seja pelo motivo que for, em geral, só percebemos que algo ou alguém nos faz falta depois da sua partida.

Pois bem, a roda gigante “City Star” se foi. E, desmontada em tempo recorde: 3 dias. Descobri sua falta.

Por um pouco mais de um mês, reinou à beira do rio Neckar, na região chamada Alter Feurwache em Mannheim, sudoeste alemão. Era uma das minhas alegrias passar por ela cedo pela manhã a caminho do treino. Vê-la iluminando as sombras e a escuridão no lento anoitecer do verão europeu também era espetacular. Silenciosa, me fez companhia em algumas noites de insônia com suas pequenas luzes brancas. Sabia que se eu fosse até a janela, a encontraria firme, suavemente iluminada à minha espera mesmo nos dias de chuva.

Agora, que não a vejo mais daqui do quinto andar, há um buraco na paisagem. Tive a certeza de que aquela companhia já não existia mais. Por vezes, fico me achando insana: aonde já se viu sentir saudade de uma roda gigante? Enfim, a minha natureza tem dessas: coloquei nela talvez sentimentos agradáveis dos momentos em família, com amigos e conhecendo novos lugares. 

Ela foi uma agradável surpresa desse período em terras alemãs. Quando chegamos, não fazia a menor ideia da sua montagem. Aos poucos, fui vendo alguns cartazes de rua. “Das Riesenrad” levou uma semana para ficar pronta entre a chegada do material à operação para o público.

Algumas madrugadas antes da inauguração, ouvi um som de motor de caminhões. Voltei a dormir. Podia ser um sonho. Na manhã seguinte, quando saí para ir à academia, todos eles estavam enfileirados em um terreno vazio às margens do rio. Eram muitos. Todos brancos, longos e tecnológicos com traços dos desenhos dos “Transformers”.

No dia seguinte, a instalação começou como se fosse um brinquedo Lego. Depois que o guindaste suspendeu as altas bases laterais, alpinistas industriais recebiam os arcos e encachavam um no outro. Da janela, contei quatro grandes pedaços da circunferência total. Mais caminhões trouxeram as cabines que também eram instaladas por um braço mecânico menor.

Há uns dois dias, os prédios do entorno, receberam um folheto anunciando o que vai ser construído no terreno que recebeu a roda gigante. As obras de engenharia e escavação do “Forum Deutsche Sprache”, fórum da língua alemã, começam ainda este ano. Na primavera de 2026, será lançada a pedra fundamental da construção que deve levar três anos.

A roda gigante vai ficar como uma grata marca dessa minha curta estada na Alemanha. Embalou minhas alegrias e me acompanhou na falta de sono. Fico feliz que tomei coragem e embarquei nela em uma tarde de sábado. Do alto dos 70 metros, percebi minha coragem. Nunca havia viajado em uma roda gigante. Foi minha estreia.

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