Dia desses, estava na minha janela do quinto piso, no lar da Alemanha, quando enxerguei uma maritaca no alto de uma árvore. Levei um susto. Abri e fechei os olhos mais de uma vez. Sempre achei que maritacas eram pássaros tropicais. Pensei que estava pirando ou sonhando.
Perto de onde moro no Rio, há um bando delas que passeia todas as manhãs com aquele grito inconfundível anunciando que o dia chegou ou está se despedindo. Me habituei com esse som. Sei também que vai chover quando no meio da tarde elas voam mais rápido para se protegerem antes dos primeiros pingos.
Nesse meio tempo do vagar do meu pensamento, o pássaro sumiu. Claro, só podia ser coisa da minha mente iludida produzindo, quem sabe, rasgos de saudade da minha casa carioca, do meu cachorro salsicha Tom, do cheiro do feijão da vizinha, dos livros do meu canto de escrita, das mangas deliciosas da feira da praça, do mar.
Amo estar por aqui, na Alemanha, junto com a minha família, com a voz da minha neta de 2 anos. Curto muito os parques bem cuidados e floridos, a cerveja misturada ao suco de limão, a Radler – estranho, né? – e os vários sotaques do alemão para “Guten Tag” ou “Morgen”. Já disse gosto de estudar o idioma.
Tudo isso me deixa feliz e agradecida. Procuro estar presente no presente e viver o que se apresenta sem deixar minha mente voar para outro momento, tempo ou espaço. No meu caso, é difícil. Ela costuma sobrevoar meu estado físico, minhas tarefas mundanas. Admito que venho fazendo um esforço interno para me manter tranquila e não viver na angústia do futuro. Tem dado certo.
No dia seguinte, lá estava eu de novo diante da mesma janela. Olhava as águas do rio Neckar se encaminhando para o deságue no rio Reno há poucos quilômetros do nosso prédio. Corriam bem lentas em dia de maré baixa. Uma maritaca surgiu sobre a grande árvore de novo. Esfreguei os olhos. Achei que de fato a saudade estava fazendo estragos no meu coração e trazendo recordações do Rio. Só podia ser isso. Aves tropicais em um país europeu? Ilusão?
Segundos depois, um bando enorme se aproximou, se ajeitou sobre as folhas. Uma delas voou e todas se dirigiram para uma árvore maior à beira do rio. Sumiram no céu daquela manhã de verão. Quando era somente uma, tudo bem. Podia apenas soar estranho a presença de uma ave tropical em território alemão. Podia ser um reflexo saudoso da minha cidade. Mas, e agora, que eram muitas? O que estava acontecendo?
A IA me salvou. Não eram maritacas. São “periquitos-de-colar” que vivem soltos na Alemanha e em outros países europeus, têm plumagem verde, mas não são considerados maritacas. Estas são nativas da América do Sul, especialmente do Brasil, da Argentina e da Bolívia.
Me senti uma idiota. Na dúvida, era só fazer a pergunta correta e pronto. Como já pontuei, como as aves, meu pensamento voa muito. Minha imaginação vai junto.
Tudo explicado, com meu coração mais calmo e feliz com o canto dos periquitos, fiquei com outra dica da IA:
“O verde é a cor da vitalidade e do crescimento, e, por isso, ver uma maritaca pode ser interpretado como um sinal de boa fortuna”.
Vi um periquito e tudo bem.