A derrota dói, consome, anula. É não saber mais quem você é ou o que mais quer da vida dali por diante. É como nada do que você tenha feito até aquela data, tenha tido algum valor, mesmo que pequeno. É quando você descobre que todo o esforço pode ter sido em vão. Não importa se treinou muito; se ficou noites sem dormir; se estudou mais: a derrota é foda mesmo. O céu nubla; o sono desaparece; a fome idem, o dia se torna mais pesado que uma tonelada de concreto.
A derrota é como se você se desmanchasse igual a um pudim quando é retirado da forma. Se torna apenas um projeto líquido com boa intenção de uma sobremesa que ficou apenas na promessa.
Certa vez, aos dezoito anos, me preparei com empenho para uma competição de 100 metros nado livre. Não pertencia a nenhum clube nem era federada, porém levei muito a sério os treinos do grupo. O desejo era ganhar e subir ao pódio pela primeira vez.
Foram dias acordando mais cedo que do costume, mantendo uma alimentação regrada e ouvindo o que o treinador dizia com mais atenção. Meu tempo melhorava semana a semana, o que alimentou minha confiança. Precisei organizar minha rotina com os estudos para não sucumbir às provas. Além da dedicação, precisava encarar duas horas de ônibus de casa no subúrbio até o clube onde treinava na zona sul do Rio, ir à faculdade e voltar.
Enfim, chegou o dia. Para encurtar: tive câimbra no diafragma a 10 metros da chegada. Minha respiração praticamente parou. Deslizei com a ajuda da raia, deixei outra competidora passar e consegui chegar até à escada. Não consegui nem pontuar. Fui vencida por mim mesma.
Sem analisar os porquês da minha péssima atuação, descobri cedo que a derrota precisa ser absorvida internamente. É verdade que nessa minha história a disputa foi individual. No entanto, acredito, que mesmo quando a vitória não vem para uma equipe coletiva, cada um digere a perda de um jeito diferente e particular. A derrota é de foro íntimo.
O sofrimento durou mais do que eu previa. Mas, acabei tomando a decisão mais adequada tempos depois. Achei melhor me dedicar à dança moderna, quando eu também me encontrei, e que me levou ao sapateado, jazz, ao balé clássico e ao hip hop. Consegui aprender que aquela derrota me abriu outra porta que estava obscura até então. Foi a oportunidade para descobrir o que de fato era indicado pra mim.
Levo essa experiência para sempre. A derrota não é um fim em si mesma. Ela mostra outros caminhos, aprendizados e experiências que podem modificar uma vida inteira em prol de vitórias e de alegrias no futuro. O importante é absorver, rever os acontecimentos e seguir em frente.