Doce é a vida.
Não estou exagerando. Apenas constatando que foi a partir de uma iguaria portuguesa que caí nessa real. E tudo por conta de uns dias fora do país. Dias que me reaproximam da minha família que mora longe: parte em Portugal e parte na Alemanha. Sem contar aqueles que vivem na República Dominicana e na Espanha.
É duro estar longe da minha gente. Qualquer oportunidade e muita economia sempre valem a pena. Sempre.
Vamos lá, contando como isso começou.
Fui a Évora, uma pequena cidade na região do Alentejo. Fica a mais ou menos 1 hora e 10 minutos de Lisboa por uma ótima estrada e com sinalização idem. Sua história remonta os tempos da ocupação romana na península ibérica.
São vielas de calçamento de pedras irregulares e escuras – parecidas com as de Ouro Preto – com nomes interessantes e divertidos para o português do Brasil, como “travessa do Bagulho”, com casinhas pintadas de branco e com telhas avermelhadas. Essa parte mais antiga da cidade parece um cenário.
De ladeira em ladeira sob um sol de 30 graus, chegamos a uma outra rua de nome interessante, “rua do Cicioso”. Bem no alto, debaixo de um toldo charmoso, está a Pastelaria Conventual “Pão de Rala”. A loja leva esse nome por causa de um doce típico criado nos conventos e mosteiros de Portugal: uma massa bem leve de amêndoas, ovos e grande quantidade de açúcar. Tem quase a consistência de um pudim.
Conheci Dona Ercília Zambujo que está na loja há muitos anos e recebe a todos com o mesmo sorriso. Havia muita gente para servir do lado de fora, duas mesas ocupadas dentro do pequeno espaço e nós cinco, minha pequena família em terras lusitanas, em pé sem saber bem por onde começar, como pedir e onde ficar.
Com raro bom humor: “Oh, menina, que vais querer?” Já achei incrível me chamar de menina nessa altura da vida. Desconcertada, comecei a perguntar o que seria melhor. “ Pois, tudo”, foi o que ouvi. A solução foi cada um de nós pedir um item diferente.
Não sei se foram aqueles doces muito doces, se foi o modo como nós estávamos agrupados em uma mesa pequena ou a alegria da dona da pastelaria, tudo ficou claro e diferente em questão de segundos. Caí na real.
Precisamos de pouco para alcançar a felicidade. Doce é a vida. Doce é estar com quem amamos. Doce é estar de férias. Curtas, mas felizes.
Dizem que o açúcar afeta o cérebro. Quem sabe, foi isso que aconteceu.